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Dando Nome aos Bois | Por Marcelo Maia

Você já ouviu essa expressão? Trata-se de uma gíria usada quando alguém revela os nomes de pessoas e seus papéis em determinado contexto, especialmente quando tais pessoas praticam ações reprováveis.

Mas não desejo aqui dar nome a nenhum “boi”, mas tão somente aproveitar essa expressão para relembrar o que ocorreu no Éden quando não apenas bois, mas todos os rebanhos domésticos, aves do céu e a todos os animais selvagens receberam nomes. Mas, antes de apreciarmos melhor essa parte da história, voltemos ao início de tudo.

A Bíblia nos fala claramente que todo o saber provém de Deus. Sendo Ele infinitamente sábio, ao criar todas as coisas o fez como desejou e da melhor maneira imaginável. Mesmo após a queda podemos observar indícios daquela ordem e beleza originais.

O ser humano foi igualmente criado segundo um propósito sábio e ao dar-lhe a ordem para dominar sobre e sujeitar a criação, Deus dotou-o de habilidades para essa tarefa. Uma dessas habilidades é a de conhecer, aprender.

A criação não veio acompanhada de um manual de instruções, embora cada elemento criado trouxesse dentro de si uma lei interna de acordo com a qual aquele elemento viveria. Assim, para reger a criação em conformidade com a vontade do Criador, o ser humano deveria investigar e aprender sobre a criação.

Lemos em Gn 2.20 que o primeiro ato de domínio realizado por Adão foi dar nome aos animais (não apenas aos bois). Embora não tenhamos um registro daqueles nomes, penso que não é absurdo imaginarmos que eles não foram dados aleatoriamente, mas guardavam alguma relação com o aspecto de cada espécie (existência de pelos, asas ou escamas; capacidade de voar ou nadar etc).

Assim, cada nome seria fruto de uma observação (ainda que superficial) e a partir do momento em que o animal recebesse um nome, ele imediatamente era colocado debaixo do domínio de Adão.

Portanto, ao conhecermos os nomes das coisas, em alguma medida estamos exercendo domínio sobre elas. As coisas, quando nomeadas, passam a fazer parte do nosso mundo e, a partir disso, podemos pensar sobre elas e relacioná-las com outras coisas. Seremos capazes, por exemplo, de estabelecer contrastes e semelhanças; poderemos descrever as várias partes constitutivas do todo, dando-lhes também nomes.

Tolkien, o autor de O Senhor do Anéis, disse certa vez: “Dê-me um nome e ele produz uma história, e não o inverso.”

Um exemplo simples ajudará. Imagine que hoje você aprenda que um determinado objeto chama-se ‘caneta’. Você o vê, o toca e descobre que serve para escrever. Pronto! Canetas passaram a fazer parte da sua realidade. A partir de agora, você poderá distinguir entre os vários tipos de caneta e será capaz de estabelecer diferenças entre canetas e outros instrumentos utilizados na escrita – lápis, giz, pincel. Você terá “dominado” a caneta (ao menos em sua mente).

O ponto no qual queremos chegar é este: o aprendizado verdadeiro começa dessa forma simples – saber o nome das coisas. Sem isso não poderemos estabelecer relações, elaborar descrições, criar narrativas, nem oferecer críticas. O primeiro passo para aprender qualquer coisa é, portanto, memorizar o vocabulário básico daquela área do conhecimento; vale dizer, aprender os nomes.

A essa fase de aprendizado dos nomes, do vocabulário próprio de cada área do saber, os antigos deram o nome de gramática. Falaremos mais sobre ela nos próximos textos.

Até a próxima.

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