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A leitura sintópica | Por Gabriel Carvalho

Com o presente texto chegamos ao fim da série “Leia mais e melhor”. Nessa série de textos analisamos, com a preciosa ajuda de Mortimer Adler e Charles von Doren, autores do livro “Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente”, da Editora É Realizações, os principais passos para uma boa leitura. Precisamos ler mais, e agora sabemos como podemos ler melhor. Nesse último texto analisaremos o quarto e último nível de leitura: a leitura sintópica. Trata-se de um nível mais elevado de leitura, quando confrontamos nossa opinião com a do autor, a fim de fazer uma avaliação crítica da obra, tanto individualmente quanto em contraste com outras obras do mesmo assunto.

Em primeiro lugar, na leitura sintópica devemos encontrar as passagens relevantes. Isso significa que será necessária uma nova inspeção integral das obras que você considerou relevantes. Seu objetivo deverá ser encontrar as passagens que são mais importantes para suas necessidades. É improvável que qualquer um dos livros em seu todo trate diretamente do assunto que você escolheu, ou que o está perturbando, ou aquilo pelo qual você está pesquisando.

Em segundo lugar, é importante que faça o autor (ou os autores) chegar a um acordo com você. Esse é provavelmente o passo mais difícil da leitura sintópica. Ele se resume, na realidade, a forçar um autor a usar suas palavras, em vez de você usar as dele. Todos os nossos hábitos normais de leitura são contrários a isso. Como observamos diversas vezes, presumimos que o autor de um livro que queremos ler analiticamente é melhor que nós, o que é mais verdade ainda quando o livro é um clássico. 

Nossa tendência é aceitar os termos do autor e a maneira como ele organizou o assunto, por mais ativamente que busquemos entendê-lo. Na leitura sintópica, porém, logo vamos nos perder se aceitarmos a terminologia de algum autor de maneira irrefletida. Talvez entendamos o livro dele, mas não conseguiremos entender os outros, e veremos que o assunto pelo qual estamos interessados não fica assim tão mais esclarecido. Por isso devemos nos esforçar para cumprir esse passo da melhor forma possível.

Além disso, é importante esclarecer as questões. Em outras palavras, deve-se estabelecer um conjunto de proposições neutras. A melhor maneira de fazer isso é preparar uma série de perguntas que podem esclarecer o problema, às quais o autor (ou os autores) deve responder. As questões têm de ser formuladas de certo modo e em certa ordem, para que ajudem a resolver o problema que motivou tudo, mas também têm de ser formuladas de tal modo que possamos extrair respostas de todos ou de quase todos os autores selecionados.

A dificuldade é que as questões que queremos que sejam respondidas podem nem ser consideradas questões pelos autores. Entre o nosso ponto de vista e o deles, o assunto pode assumir aspectos muito diferentes. Às vezes, temos de concluir que um autor não dá nenhuma resposta a uma ou mais de nossas questões. Nesse caso, registramos que ele se calou ou que foi vago em sua resposta. Mas, ainda que ele não discuta a questão explicitamente, às vezes podemos encontrar uma resposta implícita em seu livro.

Ainda, o leitor precisa definir as divergências. Isso porque há alguns autores que respondem a uma questão de um modo e outros respondem de algum modo contrário. Quando todos os autores examinados dão apenas duas respostas, a divergência é relativamente simples. Frequentemente, há mais que duas respostas para uma questão. Nesse caso, as respostas contrárias têm de ser ordenadas umas em relação às outras, e os autores que as adotam têm de ser classificados de acordo com suas opiniões.

Por último, devemos ter sobriedade para analisar a discussão da melhor forma possível. Os quatro primeiros passos da leitura sintópica correspondem aos dois primeiros grupos de regras da leitura analítica. Essas regras, quando seguidas e aplicadas a qualquer livro, permitiram-nos responder às perguntas “O que diz o livro?” e “Como ele diz?”. Em nosso projeto de leitura sintópica, somos igualmente capazes, a esta altura, de responder às mesmas perguntas sobre a discussão relacionada a nosso problema. No caso da leitura analítica de uma única obra, ainda restava responder a duas questões, “É verdade” e “E daí?”. No caso da leitura sintópica, agora estamos preparados para abordar questões similares a respeito da discussão.

Espero que essa jornada tenha contribuído para sua vida como leitor, e que você tenha crescido e aproveitado a oportunidade para ler mais e melhor. Utilize todo esse conhecimento para se tornar um melhor leitor, e ensinar outros a serem melhores leitores também. Deus abençoe sua vida!

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