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A leitura inspecional Parte 3 | por Gabriel Carvalho

Dando sequência à nossa série de textos “Leia mais e melhor”, finalizaremos neste texto as considerações a respeito da leitura inspecional – nos próximos já falaremos sobre os outros níveis de leitura. Mas por que demoramos tanto falando desse nível de leitura? Em primeiro lugar, por se tratar de uma leitura não muito comum ou intuitiva – como já disse em outro texto, fomos ensinados a já começar a primeira leitura fazendo as considerações e lendo detidamente cada detalhe do livro. Por isso é preciso esclarecer que esse nível de leitura é importantíssimo.

Ao término da leitura inspecional, precisamos saber responder, mesmo que de forma básica e inicial, a algumas perguntas. A primeira é: o livro fala sobre o quê? Você deve tentar descobrir o tema central do livro, bem como a maneira pela qual o autor desenvolve esse tema, por meio da organização e da subdivisão dos temas e tópicos essenciais. A segunda é: o que exatamente está sendo dito, e como? Você deve tentar descobrir as ideias, afirmações e argumentos principais que constituem a mensagem particular do autor.

Uma terceira pergunta a ser respondida é: o livro é verdadeiro, no todo ou pelo menos em parte? Essa é uma pergunta difícil, principalmente no nosso contexto religioso – acredito que a maioria de nós leia, na maior parte do tempo, livros cristãos, ou seja, teoricamente baseados na Bíblia. Levamos como pressuposto o livro ser verdadeiro. Porém a confirmação dessa análise é importante, pois quando você entende um livro, fica obrigado, caso esteja lendo com seriedade, a formar um juízo sobre ele.

A quarta e última pergunta é: e daí? Por que a mensagem do livro é importante? O que o conteúdo desse livro modificou ou fez você crescer? Essa análise é importante, para que não tenhamos perdido tempo ao ler uma publicação. A leitura deve causar algum crescimento, ensinar alguma coisa, aumentar o conhecimento do assunto. Se não for assim, não faz sentido ler ou se dedicar a ler mais. A leitura deve ser feita tendo em vista o nosso crescimento.

Antes de passar para os próximos níveis de leitura, é preciso ainda tratar de algo importante no processo da leitura, que influenciará sobremaneira a forma como você vai lidar com os níveis de leitura seguintes. E a questão é: podemos escrever no livro? Adler e von Doren afirmam que quando você compra um livro qualquer, estabelece uma relação de posse com ele. Mas o ato de comprar é, na realidade, apenas o prelúdio da posse total do livro. A propriedade completa sobre o livro só se estabelecerá quando ele passar a fazer parte de você, e a melhor maneira de você fazer parte do livro é escrevendo nele.

Sei que muitos têm pena ou mesmo tem problemas em fazer isso. Mas por que é indispensável anotar num livro? Em primeiro lugar, essa atividade o manterá desperto – não apenas consciente, mas verdadeiramente alerta. Em segundo lugar, ler é pensar, e o pensamento tende a se expressar em palavras – faladas ou escritas. A pessoa que diz que sabe o que pensa, mas não consegue expressar-se em palavras, na verdade, não sabe o que pensa. Em terceiro lugar, anotar suas reações ajuda-o a se lembrar das ideias e dos pensamentos do autor.

Novamente Adler e von Doren nos ajudam com dicas e técnicas práticas de anotação na leitura: em primeiro lugar, devemos sublinhar os trechos principais, sejam os mais importantes, sejam os mais contundentes. Devemos ainda traçar linhas verticais nas margens, a fim de enfatizar trechos já sublinhados ou destacar passagens longas demais para serem sublinhadas. Outra dica é inserir números nas margens, pois são úteis para indicar os passos de um raciocínio ou argumento.

Podemos ainda fazer asteriscos ou outras marcas nas margens, com o intuito de fazer uso esporádico deles a fim de enfatizar os dez ou doze trechos ou parágrafos mais importantes do livro. Talvez você queira fazer uma pequena orelha no canto das páginas (isso é um ‘pecado’ para alguns, mas ajuda!) onde constam tais marcas, ou ainda inserir um pedaço de papel junto a elas. De qualquer maneira, o objetivo é que você seja capaz de tirar o livro da estante e localizar rapidamente os trechos mais importantes e necessários. Podemos ainda circular palavras-chave ou frases, que possui função parecida com a de sublinhar.

Por fim, podemos inserir números de outras páginas nas margens, com o objetivo de apontar para outros trechos do livro que contenham os mesmos raciocínios ou argumentos contidos na página que recebe a anotação, ou mesmo contrapontos e contradições. Além disso, a prática ajuda na “amarração” do livro, no sentido de que páginas muito distantes entre si podem ser facilmente correlacionadas. As margens ainda podem servir para escritas curtas – o objetivo é registrar perguntas (e, se possível, respostas) que porventura sejam despertadas pelo trecho em questão, ou reduzir uma questão complicada a uma frase e registrar a sequência de pontos centrais.

Perceba como o processo de uma boa leitura não é complexo, porém demanda atenção e dedicação. Nos próximos textos partiremos para os níveis seguintes de leitura, avançando em nossa jornada a fim de nos tornarmos melhores leitores. Espero que esteja apreciando a leitura, Deus abençoe a sua vida!

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