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Cave um poço | Por John McAlister

Começo esclarecendo que, apesar do seu título, este artigo não diz respeito ao consumo consciente de água nem tampouco a ações sociais em áreas de vulnerabilidade social. Aliás, diz respeito a algo ainda mais importante do que essas questões. Explico.

         Certa vez, ao me deliciar com a leitura da obra Deep Church (Igreja Profunda) de Jim Belcher, deparei-me com a seguinte ilustração da qual jamais me esqueci. Basicamente, existem duas maneiras de você ajuntar um rebanho de animais. Por um lado, é possível montar um curral grande e forte o suficiente para abrigar o número de animais pretendido em um determinado local. Quanto maior for o tamanho do rebanho pretendido, maiores serão as dimensões e a estrutura deste curral. Por outro lado, é possível atrair um rebanho simplesmente ao cavar um poço que abasteça os animais com água limpa e abundante. Na falta de uma fonte alternativa de água para saciar a sua sede, o rebanho ficará concentrado próximo do poço de água.

         A comparação com a vida da igreja local é inevitável. Existem basicamente duas maneiras de ajuntar um grupo de pessoas em determinado local a título de juntas compartilharem a vida cristã. Por um lado, é possível montar um “curral” grande e forte o suficiente para manter aquelas pessoas ali, repleto de programas e atividades para gente de todas as diferentes idades e etapas da vida, além dos diferentes grupos de interesse. Quanto maior for o grupo reunido, mais elaborada será a estrutura necessária para manter aquelas pessoas concentradas no mesmo lugar. Ademais, se o que une aquelas pessoas naquele lugar é o requinte e a sofisticação da estrutura do “curral” religioso, mais esforço e recursos serão necessários para mantê-los em um determinado local ao invés de migrarem para um “curral” mais vistoso, atraente e popular.

         Por outro lado, é possível simplesmente “cavar um poço” que sacie a sede daquelas pessoas, mediante a fiel pregação da Palavra de Deus, a oração comunitária e o serviço mútuo amoroso e sacrificial. Tendo bebido da fonte pura e abundante, o rebanho que realmente quer ter sua sede saciada pela Palavra, pela presença e pelo poder de Deus saberá para onde retornar vez após vez, mesmo quando outros “currais” mais vistosos e atraentes, porém de fonte impura e contaminada, aparecerem nas redondezas. Afinal de contas, quem em sã consciência trocaria uma fonte de água potável, mesmo que um pouco mais distante, por uma fonte de água salobra mais próxima?

         Em geral, as igrejas têm se preocupado demais em construir seus “currais” amplos e aconchegantes às custas de oferecerem uma fonte pura e cristalina que verdadeiramente sacie a alma sedenta do povo de Deus. E se, ao invés de gastarmos tanto tempo e energia nesses empreendimentos, nos preocupássemos tão somente em oferecer ao povo de Deus aquilo de que realmente necessitamos: a riqueza da Palavra de Deus e da vida em comunhão com o Senhor e a sua igreja?

         Portanto, em tempos de “megacurrais” evangélicos, voltados para atrair o maior número de pessoas em um único lugar, nossa melhor opção está em uma estratégia diferente. Desista de construir currais. Cave um poço.

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