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Quando líderes nos desapontam

Liderança é um fato e uma necessidade em todas as culturas, todos os tempos, todas as sociedades e instituições. Liderança pode ser formal e instituída por meio de regras, treino e educação. Pode, também, ser informal. Liderança informal é a que se estabelece sem que a sociedade ou a instituição a tenha constituído legitimamente. É a tão conhecida liderança “carismática” ou “populista”. Essa liderança se estabelece porque um vácuo foi criado e alguém com instinto de liderança se mobiliza, conscientemente ou não, para ocupá-lo. Pode ser movido por oportunismo ou por um sentimento de dever. Mas a dinâmica da sua ascensão é a mesma.

Na igreja há liderança de elite (pessoas preparadas e que se movem debaixo de regras estabelecidas) e liderança populista (os que pela sua influência “natural” acabam boiando até a superfície do grupo, assumindo seu lugar por aclamação). Seja membro de uma elite educada ou um membro do “povo” que sobressai, esse líder pode ser bom ou não. Pode fazer bem aos seus liderados ou não.

Há igrejas que são lideradas por grupos. O “líder” que fica à frente da congregação, ocupando o púlpito e conduzindo o culto, não lidera, de fato. É um contratado, um serviçal dos que realmente decidem os rumos da igreja, mas não tem qualquer vocação ministerial. É conhecido como o “pastor” mas não pastoreia, no sentido correto. A estrutura da igreja faz dele um prestador de serviços ministeriais. É um fato trágico que em nossos dias ainda haver igrejas que são, de fato, lideradas por homens de negócios, enquanto os sacerdotes vivem a servir ao bel-prazer desses detentores dos rumos da igreja.

Existem outras igrejas cujos líderes são realmente os que ficam à frente dela. Esses não somente ministram, mas pastoreiam, inspiram e, de modo geral, definem os rumos da congregação. O povo os segue. É um modelo mais coerente, ao meu ver. Mas é um modelo que também abre a possibilidade de abusos maiores.

Mas, seja um líder de fato ou de aparência apenas, os dois podem desapontar. Podem abusar da sua influência. Podem trair a confiança dos membros. Podem se mostrar menos compassivos do que seria esperado de uma pastor de ovelhas. Podem se mostrar impiedosos, cruéis, imorais… enfim, pessoas que não espelham um temor a Deus, que é o que esperamos de um líder na casa de Deus.

Antigamente, um mestre das Escrituras tinha que ser um santo homem. Seu conhecimento não bastava, mas era balizado pelo seu caráter, pelo seu trato das pessoas e, acima de tudo, por seu claro e evidente amor para com Deus e as coisas do Senhor. Um “homem de Deus” era uma pessoa modesta no trato com os outros. Era humilde e não fazia questão de impor as suas ideias, mas as ensinava com paciência, com gentileza e bondade. Era esperado de um homem de Deus ser alguém que fazia bem a todos os que se aproximavam dele. Quanto mais perto, mais estes mestres da Palavra faziam bem. Eram intitulados os “veneráveis” da igreja. De tanto respeito que inspiravam, de tanto carinho, eram pessoas veneradas (não adoradas, mas tratadas como merecedoras de altíssima estima).

Mas, hoje em dia, temos constatado que muitos “homens de Deus” são arrogantes, briguentos, abusivos, indisciplinados e até cruéis. Quanto mais perto as pessoas chegam deles, mais se desapontam e se ferem. Melhor se após pregar a sua mensagem ou fazer a sua transmissão, fossem postos de volta numa lugar isolado para não fazer mal a ninguém. Há até “líderes” que já estabeleceram amantes oficiais na sua igreja (pasmem!). São conhecidas, mas ninguém fala disso em voz alta. O que muitos falam é que não podem levantar a mão contra o “ungido do Senhor”. Explicam: “Bem, pelo menos ele está fazendo uma grande obra”.

Aqui preciso dizer com todas as letras: PELO MENOS NÃO BASTA. Assim como a vida cristã adentra todas as áreas da nossa vida, o ministério não é uma profissão. É um sacerdócio que adentra todas as áreas da vida do ministro.

Pastores são pessoas falhas. Pastores são feitos de pó, tal qual qualquer um dos membros da sua igreja. Temos as nossas lutas, insuficiências e pecados. Lutamos contra tudo isso e é uma luta que durará a vida inteira. Lutero já dizia que ninguém saberá o quanto é um pecador até tentar viver uma vida absolutamente pura e sem pecado. Quanto mais lutamos, mais entendemos o quanto dependemos da graça de Deus. Mesmo assim, não podemos simplesmente dizer, “Então, sou assim e vou morrer assim, pelo menos estou fazendo algo de bom.” Pelo menos não basta.

Não espere do líder que ele seja super-humano. Um dia essa expectativa vai se revelar ser uma falsidade e você vai se desapontar. Não espere que ele nunca tenha um dia ruim e responda rispidamente num momento de sua fragilidade. Isso acontece. Temos que perdoar líderes? Sempre. Temos que orar por eles? Sem cessar. Temos que simplesmente aceitar que sejam assim e que todo e qualquer defeito é aceitável desde que estejam fazendo um bem, “pelo menos”? Não. Absolutamente não. Mesmo falhando, o bom líder faz bem aos que estão mais próximos. Se os que chegam mais perto mostram uma frieza cada vez maior em relação às coisas de Deus, então tem coisa ruim aí. Pense bem. Talvez esse líder tenha boiado até a tona do povo pela força da sua personalidade – ou pela sua ambição. Pode ser alguém que ministra por uma noção de oportunismo. Lembre-se: onde há fumaça, há fogo. Cheiro de enxofre não emana de flores.

Se um líder nos desaponta, temos que chegar perto e falar. Temos que dar a ele uma chance de mostrar que não foi por querer ferir. Se ele revida com violência, então não é uma boa pessoa e não teme a Deus. Se ele se arrepender (e líderes precisam ter esta transparência e oferecer esse acesso aos liderados) então é um bom homem.

Não espere dele perfeição. Espere normalidade, dosada por humildade e amor.

Na paz,

+W

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  • Louvo a Deus pela vida dos meus Pastores: Pr. Roberto Azem e Pr. Leandro Palheiro (ICNV Freguesia). Quanto mais tenho me aproximado deles, mais me sinto bem e mais aprendo sobre o Reino de Deus e sobre ministério. Sei que eles são humanos e pecadores como eu, mas que são verdadeiros “Ungidos do Senhor” para pastorearem a mim e minha igreja.

    Que Deus continue derramando sua Graça sobre eles e unção dobrada para que eles se fortaleçam em Cristo e vivam para o reino! Amém.

  • Precisava ler isso hoje meu querido bispo Walter, como precisava! Muito Obrigada!

  • Infelizmente a igreja está repleta de maus lideres. Já tive uma experiência ruim com um deles. Mas no final, acabamos nos acertando. Ele reconheceu que havia agido errado e eu também. Muito bom o texto!

  • Como o comentario de Ana Maria, como precisava ouvir isto hoje, Bispo, como precisava…Temos que orar por eles? Sem cessar…Temos que orar sim, e pedir que Deus direcione os que são os verdadeiros Sacedortes/ líderes e fale com eles, assim como falou com o Senhor e nos trouxe esta palavra que tanto precisavámos…Que aja bons homens liderando o povo que precisa enxergar nos líderes esta abertura que o Senhor falou e que não sejam intimidados ao falar e que cada um avalie e veja o que Deus quer fazer, não o que “nós” ou ele próprio deverá fazer…Que Deus continue te usando e trazendo palavras de “direção” para todos que estiverem ligados!!! Deus o abençõe Bispo.

  • Bispo Walter, bom dia!

    Costumo acessar o blog diariamente, buscando interagir constantemente. É sempre muito bom visitar este espaço!

    Porém, Bispo Walter, me surgiu uma dúvida durante a leitura do texto e gostaria de saber sua opinião acerca desta questão específica.

    Jesus instrui seus discipulos a caminharem lado a lado, juntos, para que entre outras coisas um pudesse suprir as deficiências do outro durante a caminhada…Isso me parece ser um princípio (questão de perspectiva Bispo). Na atualidade, observo que diversas lideranças parecem fazer questão de prosseguir na caminhada sozinhos. Não sei se minha observação é pertinente mas, parece que se criou uma “cultura do super-pastor (ou pastores)”. Homens acima de qualquer suspeita, acima do bem e do mal, que, por não obedecerem tal princípio, constantemente cometem erros, se deixando vencer pelo pecado…Ou por suas falhas…Enfim, erram por não admitir uma caminhada com irmãos ou irmãs que poderiam prestar suporte em momentos de dificuldade…Entendo as questões inerentes a humanidade, carnalidade e coisas do tipo mas, se essa “cultura” proposta acima não existisse, esses erros ocorreriam em menor escala não acha? O que o senhor tem a dizer sobre isso? Desde já, um grande abraço ok?

    Paz e bem Bispo!

  • Sempre bom ler acerca de líderes e liderança. Infelizmente, muitos maus líderes tem sido motivo de péssimo testemunho da Igreja de Cristo.Para aqueles que não firmam os seus olhos no Senhor e sim em homens acabam por se escandalizar e abandonar o caminho.Se faz necessário entendermos a diferença entre líderes e líderes, pois nem todos são colocados nesta posição por Deus. Excelente reflexão Bispo.

    a Paz

  • José Junior,
    Esta pergunta merece um post inteiro. E é exatamente o que vou escrever. Na terça-feira pode ler a minha resposta.
    Na paz…

  • Liderança é um fato e uma necessidade em todas as culturas, todos os tempos, todas as sociedades e instituições. Liderança pode ser formal e instituída por meio de regras, treino e educação. Pode, também, ser informal. Liderança informal é a que se estabelece sem que a sociedade ou a instituição a tenha constituído legitimamente. É a tão conhecida liderança “carismática” ou “populista”. Essa liderança se estabelece porque um vácuo foi criado e alguém com instinto de liderança se mobiliza, conscientemente ou não, para ocupá-lo. Pode ser movido por oportunismo ou por um sentimento de dever. Mas a dinâmica da sua ascensão é a mesma.
    Essa definição trata de liderança humana, a liderança eclesiástica teria que seguir o modelo Divino:
    Atos 6:3 Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.
    As qualidades para o negócio de Deus “igreja” seria:
    Boa reputação – atitude totalmente controlada pelo homem.
    Cheios do espirito – atitude totalmente outorgada por Deus.
    Cheios de sabedoria – atitude controlada pelo homem.
    Deus teve a intensão clara de definir sus liderança eclesiástica. Acho que a melhor mensagem é a que fica nas entrelinhas, senão vejamos:
    Atos 6:5 E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia;
    No texto se destaca a qualidade da igreja desejada por Deus: homem cheio de fé e do Espírito Santo, diante de todos os sete escolhidos a Bíblia afirma e destaca em suas entrelinhas, apenas um com a qualidade de Deus. E essa certeza se notifica no decorrer do discurso bíblico:
    E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
    Atos 6:8 E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.
    Porque não, Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, abiblia não fala em suas entrelinhas que esses homens também eram cheios de fe e do espirito santo, não existe nenhum versículo bíblico com esse entendimento, mas, suas entrelinhas são bem patentes, que apenas estevão tinha essa qualidade, dai a palavra de Deus afirmar, que esse homem e apenas esse fazia prodígios e grandes sinais entre o povo, é a prova da certeza de que esse líder seria o único autenticado por Deus, esta nas entrelinhas bíblica no seguinte texto:

    Atos 6:15 Então todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo.
    Esse testificação apenas sinaliza a vontade de Deus, e como Dizer: este é o meu filho amado em quem me comprazo, essa autenticação é de Deus, e não pode ser contestada, o que ocorre na igreja, é o inverso da escolha divina, os lideres são escolhidos pela proximidade humana e grau de parentesco e ainda grau de capacidade humana de liderar grupos, não é esse o líder desejado por Deus, o líder de igreja tem que ser totalmente diferente dolider secular, seus alvos não são seus como o líder secular e sim alvos Divino, o grande erro da igreja é escolher seus lideres no modelo secular.
    Portanto a compreensão é muito simples, líder cristão não tem o mesmo modelo de líder do mundo Ex:
    Líder do mundo:
    Hitler, Mussolini, Gandhi, John Kennedy.
    Líder cristão:
    Jesus, estevão, Paulo, Pedro.
    Os lideres cristão teriam que ser autenticados por Deus, teriam que ter um histórico de espiritualidade. Para se autenticar um líder cristão, teria que ser testado nele, antes de qualquer obra por ele feita, os seus frutos do espirito, ele, deveria ter, pelo menos três das características a seguir:
    Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.Gálatas 5:22
    Falemos então de algumas trindades que deveriam nortear o lider cristão:
    Amor, gozo, paz.
    Amor, paz, longanimidade.
    Amor, gozo, longanimidade.
    Amor, longanimidade, benignidade.
    Amor, bondade, fé.
    Amor, mansidão, temperança.
    Poderiamos fazer ainda várias combinações de trindade Divina, mas, uma coisa fica bem clara, todo lider tem que ter amor entre as suas qualiades, pois só assim poderia se asemelhar a Cristo e fazer a seguinte oração:
    Atos 7:60 E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu.
    Essa prece de Estevão é bem parecida com esta:
    E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.Lucas 23:34
    Duas ações idênticas, orando ambos pelos seus algozes, essa qualidade é estritamente Divina, e esse líder é autenticado por Deus, essa deveria ser a qualidade do líder da igreja, um líder cheio de amor por está cheio do espirito santo, é fácil ve esse líder em ação basta testificar o espirito, se é cheio de amor é Divino, ou seja autenticado por Deus.
    Esse é o grande erro da igreja em todo mundo, os lideres são autenticados pelo homem.
    Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.2 Coríntios 3:17
    Pedro Silva Filho.
    Teólogo

  • Bom dia Bispo,
    há quase um mês postei este comentário pois estava passando uma luta espiritual e esta luta envolvia o meu pastor.E me vi diante de um dilema de falar ou não. pensava, será que ele vai me ouvir? será que vai resolver…Até que a situação chegou ao extremo e eu em um momento de puro desapontamento, decidi sair da igreja e buscar um lugar onde eu não me senti-se tão mal….E foi aí que mais uma vez eu li este post e DEUS gritou em meu coração: AME SEU PASTOR!!!! E eu falei como? se eu não tenho como chegar nele? E olha Bispo que ele é meu amigo….Mas fiquei tão cega, tão chateada….E minha filha me chamou a atenção, e disse: Mãe vc tá sendo tão ingrata com DEUS, pois Deus fez tanto por nós e pelo que houve ele tem o direito de se defender….de se explicar, não condena á ele não….e fiquei em oração Bispo…e ontem pra Honra e Glória do SENHOR JESUS eu o procurei e li pra ele este trecho, pois leio o seu Blog e do Zágari, e mostrei pra ele que Deus já tinha usado em suas palavras que ele tinha o direito de errar e eu tinha o dever de orar por ele…E foi tremendo Bispo…Tremendo…choramos, nos arrependemos, pedimos perdão um a o outro e eu disse á ele, só vou sair daqui o dia que Jesus me chamar, pois tenho recebido através da pregação da palavra a certeza de que Jesus me ama…e hoje precisava compartilhar isto com o Sr. Bispo, para que soube-se o quanto este Blog tem ajudado os seus pastores e a sua congregação.
    Agradeço á Deus pela sua vida e que continue derramando sobre o Senhor esta unção de falar aso nossos corações.
    OBRIGADO, á DEUS e ao Senhor por fazer parte de nossas vidas.