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Eles só pensam nisso

Já há algum tempo, uma grande parte da Igreja e especialmente pessoas não cristãs têm feito uma crítica muito forte aos pastores de modo geral. O que tenho ouvido é que eles só pensam em dinheiro e não nas ovelhas. Mas, por experiência, posso afirmar que não é bem assim. Portanto, essa é uma afirmação injusta e devemos pensar com muito cuidado antes de repetir uma verdade parcial como se fosse absoluta.

É inegável que algumas igrejas das que estão em maior evidência, as que têm muita presença na televisão, desembolsam valores muito elevados para veicular seus programas. Algumas chegam a gastar milhões de reais por mês para divulgar suas mensagens e manter sua presença na mídia de massa. Vivem numa ciranda financeira muito difícil, pois precisam de muitos “parceiros” que contribuam e, assim, tenham condições de pagar pelo espaço. A transmissão, por sua vez, tem que ser dedicada, em boa parte, à conquista de novos “parceiros”, senão o programa sai do ar. É um círculo vicioso.

Esse fenômeno me lembra de uma história sobre uma fábrica de graxa. Com o sucesso da empresa, ela teve de expandir suas instalações. Isso aconteceu muitas vezes, até que, um dia, os donos se deram conta de que toda a graxa produzida era utilizada na lubrificação dos equipamentos da própria fábrica. Ou seja, ela produzia mais graxa, mas, ao fazê-lo, tinha de usar tudo o que produzia para manter a fábrica aberta. Criou-se um sistema fechado, que se retroalimentava.

Creio que muitos ministérios começam bem, embora talvez os seus pressupostos já contenham as sementes desse círculo vicioso. Com o seu “sucesso” numérico, acabam acrescentando atividades que representam uma fonte descomunal de despesas. Sem ver o que estão fazendo, acabam criando uma máquina que extrapola sua capacidade de se manter, sem que haja um bloco cada vez maior de tempo dedicado ao “apelo”. Com os projetos crescendo em tamanho e tomando cada vez mais tempo e energia dos seus líderes, os membros acabam caindo para segundo plano. Seus anseios e suas preocupações, dores e necessidades ficam como um ruído de fundo, enquanto os custos se tornam uma preocupação esmagadora. Com razão os membros se sentem desprezados. Eu até já tomei conhecimento de uma igreja nos Estados Unidos que passou a chamar seus membros de “unidades financeiras” em memorandos internos e confidenciais. Mas, como acontece frequentemente, essas coisas são descobertas e…. um escândalo.

A verdade é que há muita pressão sobre pastores para serem um “sucesso”. Todos querem andar atrás do profeta da hora. Todos querem fazer parte de algo grande e emocionante. Os líderes são pressionados pelo espírito da nossa era a ser empresários da fé. Se sua igreja for pequena, o povo acha que o pastor tem pouca fé.

Mas é no contexto das igrejas pequenas que pessoas são pastoreadas com mais eficiência. Tenho me tornado um defensor da necessidade de manter as igrejas num tamanho que permita um discipulado direto do pastor para como o seu rebanho. O maior expoente de teologia pastoral puritana, o Rev. Richard Baxter, defendia a necessidade de o bom pastor visitar todos os seus membros pelo menos duas vezes por ano. Pelas minhas contas, isso limitaria a igreja a, no máximo, uns 250 membros. Se houver um pastor auxiliar, o numero pode até ser maior.

Mas, hoje em dia, não queremos pastores modestos, pequenos grupos de leitura ou discipulado. As massas querem igrejas que “acontecem”, templos repletos, congregações cheias de “energia”, prédios abarrotados de gente em pé.

Simplesmente não há como ter tudo o que queremos. Temos de fazer uma opção. Ou vamos continuar a promover essas superigrejas, com pastores super-heróis e superpregadores – e com isso, abrir mão de sermos pastoreados – ou vamos optar por igrejas menores, que remuneram condignamente o seu pastor e que poderão contar com os seus cuidados, tanto no ensino das Escrituras quanto na oração.

Em nossa época ninguém quer assumir o fato de que todos temos culpa nesse desvio do ministério e da Igreja de Cristo. O povo quer festa e uma igreja com fogo. Mas, se quisermos andar com o Mestre e Salvador da nossa vida, teremos de baixar o volume e sermos pastoreados por santos e não por showmen. O pastor empresário, que prega de forma carismática, nem sempre (aliás, raramente) é o melhor pastor de vidas. Faz um belo show. Mas as ovelhas passam fome e morrem sozinhas.

Na paz,

+W

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  • Olha, Bispo. Este seu comentário deveria estar em todos os lugares públicos com letras garrafais para que todos pudessem ler. Na minha experiência ministerial de mais de 50 anos, tenho observado que nas últimas décadas os líderes teem perdido o sentido da verdadeira vocação que Deus os tem chamado. Realmente nestas referidas igrejas, o pastor faz um belo show, mas as ovelhas passam fome e morrem sozinhas. Na Paz de Jesus.

  • “Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará a outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (São Mateus 6,24).

    Infelizmente VIDAS estão morrendo sem conhecer a PALAVRA !

  • Amemmm tava com saudade de ser edificado por suas reflexões vindas de Deus!

    Que o Espírito continue o conduzindo debaixo dessa sabedoria e zeloso pela sã doutrina!

  • Ótimo artigo, Bispo! Extremamente edificante. Que Deus permaneça usando-lhe para abençoar Sua igreja. No terno amor de Cristo, sempre.

  • Sinceramente…
    Gostaria de conhecer esse pastor (se é que ele existe) que não pense em $ugar a gordura da$ ovelhas. Tenho 30 anos de evangelho, eu nunca vi fazerem nada pelos pobre e necessitados da igreja; pelo contrário, quem recebe visita do pastor são apenas os altos dizimistas, sendo estes aqueles que fazem o que bem entendem e jamais serão punidos por isso.
    Além disso, a profissionalização da fé, com a coronelização dos clérigos, faz com que não se pregue mais a mensagem da cruz (291 do meu Hinário), dando lugar para estórias de velhas caducas, tendo como base a famigerada Teologia da Prosperidade.

  • Essa rotina apelativa por “parceiros” adquiriu teor doutrinário com o tempo e hoje encontra-se fácil os mesmos princípios em qualquer igreja, por menor que seja.

    Um evangelho fictício, com um deus servo. Uma mente triunfalista fantasiosa e decepcionante.

    Triste.

    Lucas Yahn
    coerenciabiblica.blogspot.com

  • Bispo Walter, parabéns pelo post, EXCELENTE !!!!
    Todavia, faço uma ressalva de sua frase: “Mas é no contexto das igrejas pequenas que pessoas são pastoreadas com mais eficiência”. Sei que NÃO posso generalizar, mas pertenci a uma igreja pequena por alguns anos, em que, SOMENTE, os altos dizimistas eram pastoreados e a atenção era toda para eles. Em um determinado ano, minha tia – que era idosa – faleceu (ela era crente, mas não pertencia a nenhum ministério), pedimos para alguém da igreja fazer o enterro e para nossa surpresa eles falaram que não tinham NINGUÉM para fazer o enterro, pois seria dia de domingo. Detalhe: 1) o cemitério ficava no mesmo bairro da igreja (de carro, daria uns cinco minutos, no máximo, ou até menos); 2) na época essa igreja tinha: bispos, pastores e diáconos (a igreja tem mais líderes que membros !!!!). É muito triste isso fazer fazer parte de um ministério e perceber que quando você precisa você não tem ninguém para ajudar. Mais uma vez, PARABÉNS pelo texto. Deus o abençoe mais e mais.

  • Concordo com suas palavras Bispo.

    Infelizmente, tenho conversado com muitas pessoas tanto no Brasil como no exterior, que não acreditam mais em uma igreja “física” e muitos destes, têm até chegado ao ponto de abandonar a sua fé no Salvador, entregando suas vidas às “fábulas”.
    Me entristesse verdadeiramente o coração. Procuro conversar bastante com elas, sobre a palavra da salvação.
    Acredito que a Igreja fiel de Cristo, Igreja esta, ungida pelo poder do Espírito Santo, exista sim. E esta igreja está nas coisas mais simples, porém ainda que simples, esta igreja tem o seu brilho peculiar, que alimenta a certeza de muitos crentes, de que Deus têm zelo pelo Seu povo. Tem muitos líderes sérios, que se preocupam com a saúde espíritual da ovelha e que buscam o seu fortalecimento. Sou testemunha disto.
    Em contrapartida, é claro que existem muitos líderes que se corromperam ou que perderam de fato, o foco principal do ministério a que lhes foi confiado: Não apascentam mais as ovelhas de Cristo. Não pregam mais a palavra viva de Deus às ovelhas de Cristo. Muitos então caem e ficam pelo caminho, acompanhado de seus escândalos… e de novos crentes decepcionados com o homem e com Deus.

    Mas como Elias, “o homem de Deus” (1 Reis 19:18 ) que sentiu-se sozinho, ainda existem muitos que não se curvaram a baal, espalhados em pequenas ou grandes denominações pelo mundo afora. Clamando incessantemente para se encontrarem com nosso Salvador e também por uma mudança de postura de muitos líderes atuais.

    Porém, quanto ao mal pastor…

    “Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho; a espada cairá sobre o seu braço e sobre o seu olho direito; o seu braço completamente se secará, e o seu olho direito completamente se escurecerá.” (Zacarias 11:17)

    “E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem: todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte.” (Isaías 56:11)

    “Comeis a gordura, e vos vestis da lã; degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas.” (Ezequiel 34:3)

    Oremos então, para que o povo de Deus seja preservado incólume até o fim.

    A paz do Senhor Jesus !

  • Eita! Tô com o Otavio Ferreira e não abro mão!

  • Muito interessante esse texto, e verdadeiro no que posso testificar.
    Sou de uma igreja com menos de 50 membros, bem menos, e é muito gostoso ter o contato e a atenção do pastor que nós temos.

    Deus te abençoe, Bispo

  • Bispo, nesse contexto, gostaria de saber sua opinião sobre a proposta do livro de Watchman Nee intitulado “A Vida Normal da Igreja Cristã”, publicado originalmente na Inglaterra em 1939 com o título “Concerning our Missions” e atualmente, no Brasil, pela editora Árvore da Vida. Nele Watchman Nee faz diferenciação entre a Obra, liderada pelos apóstolos, e as Igrejas Locais, lideradas pelos presbíteros, onde o modelo de reunião é citado em I Coríntios 14:26-33.

  • Concordo contigo Carmem, existem pequenas igrejas, em que os LOBOS que se dizem pastores sugam até a última gordura do rebanho e no final das contas só “prestam atenção” aos mais $capacitados$.
    Bispo Walter, que essa mensagem chegue a muitos! Apesar de discordar do senhor (digo , A GRANDE MAIORIA SÓ PENSA EM DINHEIRO) em números, afirmo isso com muita tristeza, no entanto concordo que ainda existem pastores dignos e afirmo que são deles que nós ovelhas estamos precisando; pastores que com o cajado na mão siga toda orientação do MESTRE (O Pastor dos Pastores). Amém!

  • Bons comentários, quase todos. Concordo que há lobos em igrejas pequenas, também. Claro que a situação pode ser revirada e vamos acabar vendo de tudo. Sobre Watchman Nee, não li este livro e portanto não posso opinar sobre o que está nele.
    Só para ressaltar um fato, o título deste post é o que dizem por aí. Se é ou não a maioria, é muito difícil saber, hoje em dia. Certamente a mídia não ajuda. Pois os que estão na mídia, já caíram na ciranda financeira e estão sob a pressão de ter que pagar pelos meios.
    Mas, ficamos por aqui. Oro pela igreja. Tenho ficado muito triste ao ler os comentários de pessoas que estão machucadas. Não devia ser assim. É uma calamidade o que está acontecendo na igreja dos nossos dias.
    O coração dói, só de pensar.

  • Muitos dizem que tais pastores se aproveitam da “inocência” de seus fiéis. Fato é que a imensa maioria não é enganada por sua inocência, mas por sua ganância, ao pensarem que Deus os recompensará na proporção das suas contribuições.