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Por quem Cristo morreu?

Por quem Cristo morreu? Essa é uma pergunta que a grande maioria dos cristãos dos dias de hoje responderia com facilidade, sem precisar pensar muito: “Ora, pelo mundo todo, é claro. A morte de Cristo tem valor infinito. Qualquer pessoa que crê no Senhor Jesus Cristo pode ser salva.” Sim, mas as coisas não são tão simples.

A verdadeira questão não é se a morte de Jesus Cristo é suficiente para expiar os pecados do mundo inteiro, ou se a sua morte beneficia todas as pessoas em algum sentido limitado, ou se todos serão salvos. A verdadeira questão diz respeito à concepção da expiação, isto é, o que Deus Pai realmente pretendia fazer ao enviar o seu Filho para morrer por nós? E Jesus cumpriu o que se pretendia? Podemos expressar o assunto com perguntas como estas: a morte de Jesus realmente redimiu alguém? Ao sacrificar a si mesmo, Ele fez uma verdadeira propiciação pelos nossos pecados? A morte de Jesus reconciliou qualquer indivíduo específico com Deus? A morte de Jesus foi uma expiação real? Se a resposta a essas perguntas for “sim”, então em favor de quem Ele fez essas coisas? Como dissemos, a morte de Jesus realmente salvou alguém ou só possibilitou o dom da salvação? Quando a pergunta é feita dessa maneira, podemos ver que só há três respostas possíveis:

  • A morte de Jesus não foi uma expiação real, mas apenas algo que possibilita a expiação. A expiação se torna real quando o pecador se arrepende do seu pecado e crê em Jesus.
  • A morte de Jesus foi uma expiação real para os pecados do povo eleito de Deus, gerando como resultado a liberação dos eleitos, e somente deles, da penalidade do pecado.
  • A morte de Jesus foi uma expiação real para o pecado de todas as pessoas, resultando na salvação de todas as pessoas. Podemos descartar a terceira possibilidade de imediato, porque todos os cristãos ortodoxos concordam que nem todas as pessoas serão salvas. Ao contrário, a Bíblia ensina claramente que algumas não serão salvas; em alguns casos, indivíduos específicos se perdem. Faraó é um exemplo. Paulo o descreveu como alguém a quem Deus levantara com o único propósito de demonstrar seu poder, julgamento e ira (Rm 9.17-22). Judas é outro. Jesus disse que “melhor lhe seria não haver nascido” (Mt 26.24). O homem rico, da parábola de Cristo sobre o rico e Lázaro, é outro.

Se nós eliminamos a terceira possibilidade mencionada, que é o universalismo, ficamos com as opções um e dois:

  • A morte de Jesus não foi uma expiação real, mas apenas possibilitou a expiação.

Ou:

  • A morte de Jesus foi uma expiação real para os pecados das pessoas eleitas que o Pai havia determinado previamente dar a Ele.

Essa é uma alternativa com a qual podemos lidar, pois só exige que estudemos os termos que a Bíblia de fato usa para falar a respeito da morte de Cristo na Cruz.

Redenção é uma das palavras que a Bíblia usa para falar sobre o sacrifício de Cristo. Redenção é um termo comercial que significa “comprar de volta”. Com exceção dos banqueiros, que falam em resgate de títulos, só costumamos usar essa palavra quando nos referimos a casas de penhores. Se você está temporariamente sem dinheiro, mas tem algo de valor que pode ser penhorado, pode levá-lo a um banco ou loja de penhores e receber em dinheiro uma fração do valor do objeto. Mais tarde, se você tiver dinheiro suficiente e quiser o seu bem de volta, poderá voltar e redimi-lo mediante o pagamento do montante emprestado acrescido de juros. No mundo antigo, com frequência a redenção dizia respeito à escravidão. Pagando o preço do resgate, uma pessoa benevolente podia libertar um escravo de sua afeição.

A terminologia redenção é usada muitas vezes para falar acerca da morte de Jesus por nós. Por exemplo, Pedro escreveu: “Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito” (1 Pe 1.18,19). Paulo disse: “Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando se tornou maldição em nosso lugar” (Gl 3.13). E João escreveu: “… com teu sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap 5.9b).

Agora, façamos a pergunta: que tipo de redenção seria essa em que a morte de Jesus possibilita apenas a redenção de alguns e na qual, como resultado, outros daqueles por quem Ele morreu ainda estão em cativeiro? Imagine que um amigo seu tem problemas com a lei e foi levado para a cadeia. Ele é acusado perante um juiz e a fiança é estabelecida. Ele não tem dinheiro, mas você ouviu falar da situação dele e imediatamente leva dinheiro ao tribunal para libertá-lo. Você comparece perante o juiz, paga o preço da fiança e volta para casa. Sua esposa pergunta:

— Onde está o seu amigo?

— Ele está na prisão.

— Na prisão? — pergunta ela. — Mas você não levou o dinheiro da fiança para libertá-lo?

— Sim — diz você. — Eu paguei o valor para redimi-lo, mas ele ainda está na prisão. Eu não o tirei de lá realmente.

Que tipo de redenção seria essa? Se há uma redenção real, a pessoa que foi redimida precisa ser colocada em liberdade. Quando a Bíblia diz que Jesus nos redimiu por sua morte na Cruz, essa redenção deve ser uma redenção eficaz, e aqueles que foram redimidos precisam ser os reais beneficiários dela.

Livro As Doutrinas da GraçaTrecho do livro “As Doutrinas da Graça”, de James Montgomery Boice e Philip Graham Ryken, lançado pela Anno Domini em 2014. Este livro aborda cada um dos cinco pontos do Calvinismo e demonstra a importância desses para o resgate de um Evangelho sólido e atuante. Encha-se dessas verdades e aprenda mais com essa leitura tão importante e atual.

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