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Os cristãos e a tragédia na serra

tragedia-serra-rio-de-janeiroAs imagens de devastação da região serrana do Rio de Janeiro causada pelas últimas chuvas, têm provocado em mim as mais desconfortáveis sensações. Enquanto tenho assistido a documentação da desgraça, fico ali aterrado, impotente, um tanto quanto apalermado, grudado à cadeira, quando meu desejo era ter uma pá nas mãos. As tragédias alheias, que com grande freqüência atingem os mais pobres, agitam constantemente minha mente e coração. Tudo que foi usado pelo Espírito Santo ao longo dos últimos trinta e três anos para dar forma ao cristão que sou, não me deixa rodear nenhum necessitado sem pensar na parábola do bom-samaritano. Nela, Jesus usa do artifício alegórico para comunicar a verdade de quanto a religião é capaz de endurecer o coração humano para as expressões fundamentais da fé e da espiritualidade: o amor praticado, exercido sem reservas, em favor de quem se encontra caído ao longo do nosso caminho, independentemente de quaisquer fatores.

Ficar imóvel diante da desesperança causada pela perda absoluta testemunhada por famílias inteiras, não é só uma questão de insensibilidade, mas sinal de morte, ou de um estado avançado de deterioração da alma e do próprio coração. Neste momento, milhares de desabrigados clamam em seus vales miseráveis e ninguém os ouve. Para além da interferência humana nas questões climáticas e ambientais; para além do descaso de autoridades despreparadas, rápidas no gatilho na cobrança de impostos extorsivos e na legislação em causa própria; para além da geografia irregular da região; o fato é que alguma coisa precisa ser feita pelos cristãos e suas respectivas igrejas locais. Pois, a teologia que não inclui a compaixão e a misericórdia pelos menos favorecidos, não presta, cheira mal e deveríamos nos envergonhar dela.

Mas, toda esta indolência, toda esta torpeza, toda esta falta de iniciativa é um sintoma perigoso de falência. O judaísmo dos dias de Jesus, responsável pela produção de escribas, levitas e fariseus que contornavam a miséria sem qualquer sinal de culpa ou compaixão, prosseguiu na história sem a grandeza de ser luz para as nações. A igreja corre o mesmo perigo. Eu e você, cariocas e fluminenses, que nesse momento contorna sem culpa este quadro arrepiante, estamos sob prova. Orar nesse instante é fundamental, mas qualquer oração desassociada do desejo de agir, de operar, de doar, chega parecer uma tentativa de eximir-se, de lavar as mãos, e como sabemos, lavar as mãos não é bem o que Jesus faria.

“Os pobres, sempre os tereis convosco” disse Jesus. Este estado permanente de pobreza com o qual teríamos que conviver, precisa ser visto como uma prova permanente do nosso amor. Lembra-se de Mateus 25 (Estive com fome e NÃO…; com sede e NÃO…; nu e NÃO…; enfermo e NÃO…)? Todos esses “e não” de Jesus apontam para um tempo de total frieza para com todos estes flagelos, um tempo de egoísmo, e isso não combina em nada com o ensino de Cristo. Logo, discipulado que exclui a misericórdia e compaixão pelos pobres, não é o de Cristo.

Vamos lá! Orem; conversem mutuamente; organizem-se; juntem as pás, enxadas e picaretas; acrescente à bagagem roupas, comida e agasalhos; separe algum dinheiro para doações e suba a serra. É hora de fazer diferença!

Com amor e carinho,

Pr. Weber

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