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Construindo pontes entre pais e filhos

Por Gilson de Souza Silva (pastor titular da Igreja Cristã Nova Vida em Jardim Alvorada – Nova Iguaçu)

Existem pessoas que sonharam em ser pais, e são. Existem ainda as que desejaram e planejaram, mas não conseguiram ser. E, por fim, há outras que não desejaram, nem tampouco planejaram, mas se tornaram pais. Eugene Peterson, professor de Teologia e autor do livro Crescendo com seu filho adolescente, afirma que Deus escolheu algumas pessoas para desempenhar uma função específica, no que ele chama de geração paterna. Pode-se dizer que há um chamado específico para o desempenho dessa função, que estabelece um compromisso firme por parte daqueles que são especificamente chamados para serem pais em relação a filhos ou filhas. Portanto, ser pai ou mãe é um privilégio, uma benção, e os que são chamados como geração paterna podem e devem se alegrar com isso.

Só que existe um abismo entre as gerações. Por um lado, frequentemente os adolescentes não conseguem avaliar a importância da geração dos pais em suas vidas. Por outro, os pais acabam sendo tentados a pensar que sua principal função na vida dos filhos é apenas dar conselhos. Mas os conselhos só terão valor se forem o resultado da intimidade adquirida no relacionamento entre pais e filhos e se tiverem propósito cristão – só então eles serão úteis. Mas se a principal função da geração dos pais não é apenas aconselhar, então em que áreas ela pode contribuir de maneira especial? Basicamente três: conquista da intimidade, capacidade de se importar, e capacidade de ensinar a identificar e responder à voz de Deus. Vamos considerar cada uma delas:

[symple_heading style=”” title=”Conquista da intimidade” type=”h1″ font_size=”” text_align=”center” margin_top=”30″ margin_bottom=”30″ color=”undefined” icon_left=”” icon_right=””]

Em primeiro lugar, a geração paterna pode contribuir na conquista da intimidade, uma forte característica dos adultos. Os jovens não são bons em cultivar intimidade, embora desejem ardentemente isso, pois, em geral, não são seguros de si mesmos. Se é verdadeiro o ditado que diz “o coração dos outros é terra onde ninguém pisa”, então a intimidade alheia é uma região desconhecida demais para os jovens se aventurarem a conquistá-la – por isso surgem muitos medos. Compete à geração dos pais o dever, ou a missão, de conquistar e depois demonstrar intimidade, a fim de que seus filhos vejam e aprendam.

[symple_heading style=”” title=”Capacidade de se importar” type=”h1″ font_size=”” text_align=”center” margin_top=”30″ margin_bottom=”30″ color=”undefined” icon_left=”” icon_right=””]

Outra contribuição da geração paterna é a capacidade de se importar com o outro. É na maturidade que grande parte das pessoas adquire essa habilidade. Os jovens, apesar de demonstrarem momentaneamente que se importam com o próximo, não têm essa característica marcante, pois ainda lhes falta a estabilidade emocional necessária. Um exemplo prático é quando um jovem, antes de completar dezoito anos, perde, por causa de falecimento, o pai (o provedor do seu lar). De acordo com o Direito Militar, ele passa a ser considerado, pelas Forças Armadas, como “arrimo de família”. Esse jovem ganha então dispensa automática do serviço militar obrigatório, a fim de poder trabalhar e prover o sustento para a sua família. Por força das circunstâncias ele terá de aprender, muito antes da hora, a cuidar e a se importar com as pessoas da sua casa, quando ainda deveria estar recebendo cuidados.

É por meio do exemplo que a geração mais velha ensina a mais jovem. É recebendo o cuidado dos pais que a geração dos filhos aprende a cuidar e a se importar com os que estão à sua volta.

[symple_heading style=”” title=”Capacidade de ensinar a identificar e responder à voz de Deus” type=”h1″ font_size=”” text_align=”center” margin_top=”30″ margin_bottom=”30″ color=”undefined” icon_left=”” icon_right=””]

É responsabilidade da geração dos pais a importante missão de ensinar os filhos a identificar a voz de Deus, discernindo o tempo Kairós. Ou seja, a oportunidade, o momento apropriado para que os filhos respondam a Deus por si mesmos. Esta talvez seja a contribuição mais valiosa da geração paterna para seus filhos.

Na Bíblia, a história de Samuel é um exemplo ideal, no contexto da revelação de Deus, sobre a formação da identidade de um adolescente. Como forma de gratidão a Deus, Ana e Elcana, pais de Samuel, o entregaram ao sacerdote Eli, ainda muito pequeno. Durante toda a sua infância o menino cresceu e se fortaleceu, tendo na pessoa de Eli a figura de um afetuoso pai substituto. A ideia que o texto bíblico passa é que Samuel sentia-se em casa no templo.

A Bíblia nos conta que, ao ouvir pela primeira vez a voz de Deus, Samuel pensou ser a voz de Eli. A mesma voz que ele escutou durante toda a sua infância, o instruindo, orientando e guiando. Samuel respondeu ao chamado como de costume, levantando-se e indo até o sacerdote. Mas essa atitude não funcionou como das outras vezes, porque quem estava chamando era Deus. Foi então que Eli, experiente em questões ligadas à adolescência, desempenha a dupla função – de pai e sacerdote. Ele orienta Samuel a que responda àquela voz, não como a voz de seu pai, mas sim como a voz de Deus.

Alguém poderia dizer que essa foi uma grande “sacada” de Eli. Ele teve feeling o bastante para concluir que o rapaz havia chegado ao ponto. Para o sacerdote, Samuel estava amadurecido, pronto para responder a Deus sem a ajuda de um adulto. Nem a rotina do templo e das obrigações religiosas, nem tampouco a orientação paterna, ambas necessárias, seriam naquela fase capazes de controlar a vida do jovem. Chegou o momento em que nem os pais, nem o sacerdote serviam como mediadores para Samuel, pois ele havia ouvido pessoalmente e diretamente a voz de Deus chamando o seu nome.

Nas três primeiras vezes Samuel ouviu, mas não identificou de quem era aquela voz. No entanto, depois de ser orientado por seu pai substituto, sacerdote e mentor, Samuel aprendeu a ouvir e a identificar a voz de Deus. A seguir, Samuel passou a ouvir por si mesmo. O Senhor passou a tratar com ele diretamente, como um jovem com identidade definida. Mérito de Eli, que soube ensinar e mostrar o momento certo de responder ao chamado pessoal de Deus.

Trecho do livro “Você não me entende!”, lançado pela Editora Anno Domini em 2011. Nele, o leitor encontrará outros temas relacionados ao universo jovem, tais como consumismo, os tipos de relacionamento do século XXI e a escolha da carreira profissional. Em cada assunto, o papel dos pais na formação do jovem também é abordado, sempre sob o ponto de vista das Escrituras Sagradas. Além de Gilson Silva, outros pastores da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida também foram responsáveis por produzir o conteúdo da publicação. Clique aqui e saiba mais!

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