Início / Artigos / Como saber se o que cremos é verdade?

Como saber se o que cremos é verdade?

O texto a seguir é a primeira parte de um artigo meu que pode ser lido, na íntegra, no número atual da revista virtual “A Espada e A Espátula” do Projeto Spurgeon.

 Muitas pessoas “sabem” que comer bolo quente dá dor de barriga. Pelo menos foi isso que suas mães sempre lhes ensinaram e, assim, passaram a acreditar nessa afirmação. Estou entre os que aprenderam isso. Só que já ousei comer bolo quente e descobri que aquilo que eu “sabia”… simplesmente não era verdade. Na realidade, bolo quente é maravilhoso e não faz mal algum. O que sei hoje me leva a desconfiar que minha mãe lançava mão desse artifício porque não queria que eu comesse bolo antes que estivesse posto à mesa para que todos o repartissem juntos. Assim, fui ensinado que seria melhor evitar uma dor de barriga abrindo mão dos perigos daquele bolo, cujo aroma enchia a casa e me chamava para tirar um pedaço. Minha mãe não se limitou a me ensinar essa “verdade”. Disse-me que se eu deixasse a tampa da pasta de dentes aberta, baratas viriam e fariam suas necessidades na pastinha que eu certamente colocaria na boca na escovada seguinte. Posso garantir que essa imagem me assombrou tanto que nunca, mas nunca na minha vida deixei de tampar o tubo de pasta após a escovação.

Aprendemos coisas ao longo da nossa trajetória que não questionamos. Até que um dia a ficha cai, seja por um raio de intuição súbita, seja por algum fato ou evento que desafia o que sabíamos, levando-nos a questionar todo um paradigma na delicada matriz conhecida como a nossa cosmovisão – aquele conjunto de dogmas, crenças, práticas, perspectivas e atitudes que nos definem e ao mundo como nós o entendemos.

À luz disso, trago um questionamento que me assombra há muitos anos: como posso saber se tudo o que creio ser verdade sobre a Bíblia e a fé é realmente a verdade? É uma pergunta legítima. Claro que é mais comum achar esse questionamento nas conversas de jovens em crise. Parece que o ceticismo e a angústia de entender o mundo fazem parte do seu processo de crescimento – uma cadeia de ritos de passagem entre a ingenuidade infanto-juvenil e a convicção que vai se formando em alguém e que caracteriza uma vida adulta plena.

Lamentavelmente, em nossos dias e no mundo midiático esse processo se tornou cada vez mais raro. Deixamos que a mídia dite como pensamos e, como zangões programados, tomamos o nosso lugar na colmeia global – sob o comando da rainha-mãe, a televisão. Acéfalos, pensamos que pensamos, sem reflexão e sem critério além do que nos foi imposto pelo “senso comum” – um caldo de meias-verdades e mentiras, informações triviais e boatos que nos é servido por inúmeros processos, por falácias e sofismas de propaganda.  E é de dentro desse caldo epistêmico que, como filhos desta era, tentamos formar uma teologia realmente bíblica. Mas como? É deprimente saber que temos que subir uma ladeira dessas com um motor que já bate pino desde o dia em que saiu da fábrica. Então, como podemos realmente saber se o que “sabemos” sobre a Bíblia é de fato a verdade? Afinal, há tantas interpretações, por mais claras que possam nos parecer. Uma leitura simples e ingênua parece nos apontar para a verdade. Mas há tantas coisas que nos parecem estranhas e anacrônicas nas Escrituras. Recorremos aos eruditos, aos pastores e até aos televangelistas para entendermos. Mas até entre eles há diferenças expressivas e, francamente, desconcertantes. Como então saber a verdade sobre o que creio? Por onde começar essa jornada de aprendizagem e discipulado?

Muitos acham que o caminho que inexoravelmente nos levará à boa interpretação da Bíblia seja científico – o que é algo parcialmente certo. Temos que aprender as línguas originais, precisamos entender os contextos culturais, necessitamos nos aprofundar nos conceitos históricos. Como quem quer entender os mistérios do universo com lentes poderosíssimos, mapas e computadores que varrem os céus, queremos instrumentos que nos garantam uma leitura fidelíssima das Sagradas Letras. Vivemos numa época que ainda deposita fé no método científico. Mas, que método é esse? Cada disciplina de ciência obedece métodos diferentes. Geologia é uma ciência. Mas o seu “método” é radicalmente diferente da ciência da genética, da medicina ou da física quântica, para não falar nas disciplinas da sociologia ou da psicologia. Cada ciência tem os seus caminhos, seus métodos e seu processo peculiar. Então, para os que querem estudar a Bíblia “cientificamente”, que método nos assegurará êxito na busca pela verdade?

Francis Bacon (1561-1626 a.D.), considerado o pai da ciência moderna, defendia  um método que compreendia juntar todos os dados, as evidências e as informações e, como quem monta um quebra-cabeça, tirar inferências e conclusões apenas com base na observação e no raciocínio. Já René Descartes (1596-1650 a.D.) defendeu que todos partissem de princípios universais, como as “ideias inerentes” de Platão, contra os quais as evidências seriam pesadas e, somente então, seria possível chegar a conclusões.

Há quem siga o modelo baconiano no estudo da Bíblia: ler tudo e depois concluir o que seja verdade, por pura inferência e dedução clara e evidente. Outros já defendem uma disciplina cartesiana, partindo de fundamentos contra os quais todo e qualquer estudo de um livro ou uma passagem bíblica seria analisado e eventualmente interpretado.

Mas o conhecimento da verdade não é tão simples assim. Há certas “regras” bíblicas que informam como podemos chegar até ela. Vejamos algumas das coisas que o próprio Senhor Jesus nos disse a esse respeito.

O ponto de partida epistêmico

A Bíblia é a revelação específica de Deus, que é espírito. Embora tenha sido escrita por homens, seu conteúdo aponta para realidades que são estranhas para quem não tem um relacionamento com Deus em espírito. A Bíblia fala de alguém que resiste a toda e qualquer definição. Grande parte das nossas afirmações sobre Deus são negativas, ou seja, afirmamos o que Ele não é.

Jesus disse aos judeus em João 8.43: “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira. No entanto, vocês não creem em mim, porque lhes digo a verdade! Qual de vocês pode me acusar de algum pecado? Se estou falando a verdade, porque vocês não creem em mim? Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus”.

Quem não pertence a Deus não poderá ver Jesus por quem Ele é. Como a Bíblia toda aponta para Cristo, certamente apenas os que pertencem a Deus, pelo poder do Espírito Santo, poderão ler as Escrituras com compreensão. Conhecimento só vem pelo poder de Deus, no que diz respeito à interpretação das Escrituras Sagradas. Sem a ação do Paráclito, apenas aperfeiçoamos o método de – com um grau de precisão cada vez mais elevado – errar o alvo.

Pedro andou com o rabino nazareno. Ele viu os milagres que todos viram. Ouviu as palavras que todos ouviram. Mas quando Jesus perguntou aos discípulos quem eles criam que ele fosse, Pedro disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus então afirmou que não havia como saber isso, a não ser que o Pai o tivesse revelado. É perfeitamente plausível que alguém leia e estude a Bíblia sem nunca enxergar o Senhor da Bíblia. O Pai tem que revelar quem é Jesus. Os religiosos do dia viram as mesmas coisas, mas o chamaram de mentiroso e endemoninhado. Embora fossem “mestres da Lei e dos Profetas”, eram cegos à verdade. 

Para quem desejar ler o resto do artigo, ele está neste endereço para “download”: http://www.projetospurgeon.com.br/2012/10/a-espada-e-a-espatula-numero-6/

 Na paz,

+W

Leia também

leia+6

A leitura inspecional Parte 3 | por Gabriel Carvalho

Dando sequência à nossa série de textos “Leia mais e melhor”, finalizaremos neste texto as …