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Qual o principal problema da igreja evangélica na atualidade?

Por Walter McAlister

O principal problema é a cultura interna que ela gerou, que não é inteiramente cristã. Na Igreja fundamentada em princípios bíblicos, todos se reportam à Bíblia. Mas, infelizmente, as práticas, as crenças, o modo de agir popular dos cristãos constituem desvios reais da fé. E não estou falando de dogmas, doutrinas ou teologia.

Por exemplo, o pentecostal é aquele que acredita que as manifestações do dia de Pentecostes continuaram nos anos seguintes e não cessaram com o fim da geração dos apóstolos; pelo contrário, permanecem até os dias de hoje. Essas manifestações incluem sinais, prodígios, línguas estranhas, movimentos de evangelismo etc.. Essa é a convicção básica do movimento pentecostal. O pentecostalismo, por outro lado, já é toda uma cultura que foi crescendo, evoluindo, com base em práticas, preconceitos, caricaturas, pregações, tiques e frases que se tornaram moda e por isso caíram nas graças de todo mundo. E são praticamente inquestionáveis. Tragicamente, essa cultura vai muito além das fronteiras da fé cristã e do que realmente é convicção pentecostal. Parte dessa cultura pentecostal e evangélica é paradoxalmente antipentecostal, anticristã e mundana.

Por exemplo: nós transformamos a ideia do ”tem que dar certo”, que é muito própria do brasileiro, em algo que marcamos com a frase “em nome de Jesus”. Dizemos “isso vai acontecer em nome de Jesus”, “eu estarei lá em nome de Jesus”. Assim, “em nome de Jesus” se tornou praticamente o “tem que dar certo”. Mas, de certa forma, constitui também uma violação do terceiro mandamento, pois se acaba usando o nome do Senhor em vão. Coisas do gênero.

Deixe-me dar um exemplo que leva isso a uma conclusão lógica. Eu estava procurando um apartamento para alugar e a corretora, que era evangélica, descobriu que eu era um bispo. O dono do apartamento tinha esquecido de deixar as chaves na portaria, por isso ela pegou um molho de chaves e disse “bom, vamos ver se uma dessas vai funcionar, pois, de repente, pode abrir”. Então pegou uma das chaves e disse “agora eu vou ver se o sangue de Jesus tem poder”. Ela pôs a chave na fechadura, mas a porta não abriu. Ou seja: para aquela ocasião o sangue de Jesus não tinha poder. O sagrado foi trivializado pelo seu uso popular e, podemos até dizer, vulgarizado. Vulgarizamos as coisas sagradas. As nossas expressões cristãs se tornaram chavões, adesivos, chaveiros. A gente pega qualquer frase e já transforma numa espécie de patuá, numa espécie de passe de mágica: “Em nome de Jesus, vai dar certo”. E, às vezes, não tem nada a ver com Jesus, com a fé. Jesus não está nem remotamente envolvido com aquilo.

Ou seja: criou-se uma cultura evangélica que vulgariza nossos símbolos e nossas palavras. E, na vulgarização das nossas palavras, elas se tornam menos valiosas, menos preciosas. A fé tornou-se algo a serviço da nossa vida secular. Claro que nossa fé se aplica à vida secular, mas ela não existe como um recurso apenas, e sim como uma autoridade sobre esta vida.

[symple_box color=”black” fade_in=”false” float=”center” text_align=”left” width=””]Poderíamos, então, dizer que o problema principal é a banalização da fé?[/box]

A banalização de tudo o que é sagrado. É como Hofni e Finéias, que pegaram a Arca da Aliança e a levaram para o meio da batalha. Tiraram-na do lugar onde deveria ter ficado, que é na presença do Senhor. E o que aconteceu? Os filisteus capturaram a Arca. Do mesmo modo, nós banalizamos o que é sagrado e, ao fazermos isso, nos tornamos anticristãos. E hoje o que se vê é uma Igreja mundana. Nossas palavras apontam para Cristo, mas a maneira como as empregamos aponta para o mundo. Trágico.

Texto do livro “O Fim de Uma Era”. Em um diálogo franco e honesto, Walter McAlister propõe uma reflexão sobre os rumos da Igreja. A leitura desta obra leva a uma autoanálise e incentiva o cristão a ser mais piedoso, responsável, reflexivo e verdadeiro em sua fé. Clique aqui e conheça um pouco mais sobre o livro.

 

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