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Zumbismo

zumbisDe todas as severas advertências feitas às sete igrejas da Ásia, a que não me deixa parar de pensar; a que não me deixa descansar o coração; a que não me deixa esquecer a realidade do juízo, é a que foi pronunciada sobre Sardes:“Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto”. Sempre que a leio, ponho-me a pensar sobre a incrível habilidade humana de acobertar realidades e de como somos vulneráveis ao zumbismo (uma espécie de espiritualidade que prioriza o desempenho em detrimento da confissão, também conhecida como culto à aparência), tudo para vender a imagem da vida sob o compromisso de esconder a morte.

Esta tendência cultivada por Sardes parece ter feito escola. Não é fácil encontrarmos gente que esteja disposta a encarar o realismo de sua vida. Convivemos com um fingimento frio. Assistimos em nossas comunidades ao espetáculo trágico-cômico interminável, da defesa de uma imagem de força e poder, expressa nas afirmações de aparente fé, e nos rostos besuntados dos cosméticos produzidos pelas indústrias da hipocrisia, cuja a principal promessa é: ninguém notará quem você é de verdade.

Por trás dos rostos sorridentes; dos trajes alinhados; da imagem da perfeição; da aparente espiritualidade viva, o cheiro da morte é real. Ninguém consegue ser feliz defendendo uma imagem mentirosa. Ninguém consegue prosseguir em paz vivendo sob o peso de que a qualquer momento seu segredo será revelado. Isto não é só uma tortura, é loucura, insensatez, pecado. Vender uma imagem de vida estando morto, é pecado. A velha e tradicional brincadeira de esconde-esconde por entre as árvores do Éden. Quem pode esconder-se de Deus?

Se observar, todas as advertências pronunciadas pelo Senhor às igrejas, vieram acompanhadas da palavra CONHEÇO. É como se o Espírito estivesse a dizer: Não adianta argumentar, fugir, esconder, fingir, eu CONHEÇO. Como ganharíamos em credibilidade e na compreensão mais profunda da graça, se resolvêssemos deixar de representar força para permitirmos que todos nos vissem como realmente somos: fracos.

Mas, a questão de Sardes era mais séria! A imagem que vendiam era a da vida – diziam: “Somos cristãos vitoriosos e poderosos, vivendo sob a gloriosa unção de Deus, em perfeita santidade” – quando na verdade estavam mortos, separados de Cristo (o autor da vida). Sardes é o exemplo da pura expressão da graça de Deus, uma tentativa do Eterno em tentar nos convencer de que Ele não está nem aí para o que aparentamos ser, nem aí para os nossos cosméticos ou tentativas de impressioná-lo. Sardes é um grito divino na história por realismo, confissão, livre demonstração de fraqueza; é Deus dizendo pra nós: a fé cristã não é um show e a igreja não é um palco.

“Consolida o resto que estava para morrer”, disse o Espírito. Haveria por acaso alguém entre os meus leitores que não tem um saldo pecaminoso na vida?

“Não tenho achado íntegras as tuas obras”. Metidos neste mundo que jaz no maligno; formados nessa cultura deformada pela transgressão; atuando nessa sociedade injusta que nos força saltar sobre menores abandonados num cenário de guerra e violência, eu pergunto: todas as suas obras são íntegras?

“Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te”.

Que o Senhor nos ajude a vencer o zumbismo!

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