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Você crê nisso? (João 11.26)

imagesToda pessoa que lê este artigo está morrendo. Todo homem, toda mulher, toda criança está morrendo. À parte de quaisquer diferenças que existem entre nós, este fato compartilhamos uns com os outros: todos estamos morrendo.

“Obrigado, Sam! Agradeço pela palavra encorajadora!”

Sim, eu sei que soa mórbido e deprimente. Mas a verdade é que realmente ESTAMOS todos morrendo. No devido tempo, mais cedo ou mais tarde, a não ser que Jesus volte primeiro, todos estaremos mortos.

Muitos de vocês que estão lendo este artigo recentemente sepultaram um ente querido. Meu tio, a quem amei tanto quanto um sobrinho pode amar seu tio, morreu há algumas semanas.* Além da sua esposa, filho e neto, ele deixou para trás três irmãs que agonizaram com a sua morte. Mas elas também regozijaram sabendo que ele está bem vivo na presença do Senhor, Jesus Cristo.

Há muitos séculos, duas irmãs também ficaram de luto por causa da morte de seu irmão. Seus nomes eram Marta e Maria. O nome dele era Lázaro.

Tenho certeza de que você se lembra da história. Quando ouviu que Lázaro havia morrido, Jesus permaneceu mais dois dias no lugar onde estava. Quando ele finalmente chegou a Betânia, lemos em João 11.17 que “Jesus verificou que Lázaro já estava no sepulcro havia quatro dias.”

O encontro subsequente entre Jesus e Marta é surpreendente. “Disse Marta a Jesus: ‘Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, Deus te dará tudo o que pedires’. Disse-lhe Jesus: ‘O seu irmão vai ressuscitar’. Marta respondeu: ‘Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia’. Disse-lhe Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê nisso?’ Ela lhe respondeu: ‘Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo’.” (v. 21-27)

Há três coisas que vale a pena notar aqui.

Primeiro, você já notou como você se apresenta a outros? “Oi, meu nome é ____, e eu sou ____.” Dizer apenas “Eu sou” não explica nada a quem quer que seja. Ele(a) responderá: “OK. Você é o quê?” Respondemos: “Eu sou homem / mulher, tantos anos de idade. Eu moro em ____. Eu trabalho no(a) ____. Minha especialidade é ____.” etc.

Mas não Jesus! Em várias ocasiões ele se apresenta e identifica, seja como fosse, dizendo simplesmente “Eu sou!”. Acredite se quiser, bastava dizer isso às pessoas da época que elas saberiam exatamente o que ele quis dizer.

Agora, certamente, ele preencheu os espaços em branco diversas vezes. Por exemplo, “Eu sou o pão da vida” (Jo 6.35), “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12), “Eu sou a porta das ovelhas” (Jo 10.7,9) e “Eu sou a videira verdadeira” (Jo 15.1,5).

Se eu ou você disséssemos “Eu sou” e deixássemos apenas nisso, a maioria acharia que estamos apenas dizendo “Eu existo” ou “Estou vivo” ou “Estou respirando” ou “Eu sou eu mesmo e não outra pessoa que você possa ter se enganado”, ou algo parecido.

Mas para Jesus ter usado esta linguagem em sua época significava algo muito além disso. Por exemplo, Jesus disse: “Eu lhes disse que vocês morrerão em seus pecados. Se vocês não crerem que EU SOU, de fato morrerão em seus pecados” (Jo 8.24). Novamente, “Então Jesus disse: ‘Quando vocês levantarem o Filho do homem, saberão que EU SOU, e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o Pai me ensinou’ “ (Jo 8.28). Finalmente, “Respondeu Jesus: ‘Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, EU SOU!’ “ (Jo 8.58).

Por um lado, Jesus pode ter feito uma alusão à declaração de Deus por meio da sarça ardente em Êxodo 3.13,14. Mais provavelmente, no entanto, o pano de fundo do Antigo Testamento para as palavras de Jesus são encontradas em textos como Isaías 41.4 (“… eu mesmo, o Senhor, o primeiro, que continuarei sendo, até mesmo com os últimos.”); 43.10,13 (“’Vocês são minhas testemunhas’, declara o Senhor, ‘e meu servo, a quem escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou Deus.’ “); assim como 46.4 e 48.12 (“Escute-me, ó Jacó, Israel, a quem chamei: Eu sou sempre o mesmo; eu sou o primeiro e eu sou o último.”).

Simplesmente não há como escapar do fato de que com essas palavras (“Eu sou”) Jesus está afirmando ser Deus em carne.

Neste trecho de João 11 Jesus está, novamente, afirmando “Eu sou”, mas segue preenchendo a lacuna com “a ressurreição e a vida”.

A segunda coisa a ser notada é aquilo que Jesus não diz. Ele não diz “EXISTE uma ressurreição e EXISTE vida”. Além do mais, ele também não disse “existe uma luz para o mundo” mas, sim, “EU SOU a luz do mundo” (EU SOU o pão… vinho… caminho… verdade… vida” etc.).

Veja novamente João 11.23,24 – “Disse-lhe Jesus: ‘O seu irmão vai ressuscitar’. Marta respondeu: ‘Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia’.” D. A. Carson chama isso de uma “obra prima de ambiguidade planejada”. Num primeiro nível suas palavras “O seu irmão vai ressuscitar” poderiam ser entendidas como nada mais que uma devotada declaração doutrinária projetada para confortar Maria em seu luto. Ele aponta a sua atenção para o dia final da ressurreição no fim dos tempos. A morte não terá a última palavra, “seu irmão VAI ressuscitar”. É assim que Maria entende as palavras de Jesus. Ele creu, assim como todos os judeus devotos daquele tempo, que a ressurreição aconteceria no fim dos tempos.

Mas preste atenção ao que Jesus diz. “Não, Marta, a ressurreição não é apenas algo que está longe. Ela está aqui mesmo! Sou eu. Marta, EU SOU a ressurreição e a vida.”

Jesus então diz a Marta, “Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá” (v. 25b). Ele não diz “aquele que crê na ressurreição do corpo”, mas “aquele que crê em MIM!” Carson explica: “A preocupação de Jesus é desviar o foco de Marta de uma crença abstrata no que acontece no último dia, para uma crença pessoal no único que pode providenciá-la. Assim como não só dá pão dos céus (6.27) mas é ele mesmo o pão da vida (6.35), também não apenas levanta dos mortos no último dia (5.21,25), mas é ele mesmo a ressurreição e a vida. Não há nem ressurreição nem vida eterna fora dele”.

O foco da fé de Marta (e da sua) não deve ser num princípio mas numa pessoa. Há e haverá uma ressurreição porque há e sempre haverá uma pessoa chamada Jesus que ele próprio venceu a morte e é ele próprio vida e ressurreição!

O terceiro e último ponto de interesse nessa narrativa é como Jesus confronta Marta. Ele pergunta “Você crê nisso?” (v. 26b).

“Você, Marta, não os outros. Você. VOCÊ crê nisso?” Ele não diz “Marta, o que sua irmã Maria pensa a respeito disso?”. Ele não diz “Marta, o que os jornais estão escrevendo a meu respeito esses dias?”. Ele não diz “Marta, o que os escribas e autoridades da sinagoga estão dizendo a meu respeito?”.

Jesus pergunta a Marta pessoalmente. Jesus está perguntando a você e a mim pessoalmente. “VOCÊ crê nisso?” Crê no quê?

“Nisso.” Jesus não está perguntando Marta se ela crê que ele está prestes a ressuscitar o seu irmão. Ele está perguntando se a sua fé pode ir além do fato de que seu irmão será ressurreto no último dia para uma confiança pessoal no próprio Jesus como a ressurreição e a vida.

Preste atenção à sua resposta no v. 27 – “Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”. Ela declara sua confiança pessoal, confiante e crente em Jesus como o Filho de Deus, Messias, à parte de quem a morte vencerá, à parte de daqueles para quem não há esperança ou vida!

Não seja enganado. Se você crê ou não “nisso” não afeta se é verdade ou não. Haverá uma ressurreição, caso você creia nela ou não. A ressurreição não é uma questão de escolha. A ressurreição não é criada ou destruída pela sua crença ou descrença. Todos morrerão e todos ressuscitarão, alguns para a vida eterna e outros para a condenação eterna (cf. Jo 5.25-29).

A única pergunta relevante que resta é a mesma que Jesus fez para Marta: “VOCÊ crê nisso?” E então, você crê?

* Este texto publicado originalmente no dia 12 de fevereiro de 2010.

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