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Uma história de salvação – parte 2

True-Cross-Kreuzpartikel-Schatzkammer-of-Vienna-HD-WallpaperFinalmente Deus falou! Após mais de quatro séculos de silêncio, Deus ouve o clamor do povo (Êx 3.7-9). Mas existe um “porém”: imagine-se nesse ponto da história como um hebreu escravo; Deus falou, mas você nada ouviu, pois Ele apareceu longe do Egito e falou a alguém que por 40 anos desfrutou de sossego e cuja lembrança da escravidão consistiu apenas no que viu.

Ao reger essa história, o Senhor se vale daquilo que é desprezado por este mundo, como as parteiras Sifrá e Puá, do capítulo 1 de Êxodo. Paulo diz que a loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria dos homens. Mais uma vez Deus insiste em nos surpreender.

Enquanto a situação no Egito está terrível, Deus aparece em uma sarça, um pequeno arbusto, em uma montanha a mais ou menos 500 km do Egito. Sem nenhum espetáculo ou alarde, chama a atenção de um pastor que está passando por lá e o chama para libertar todo um povo da escravidão imposta pelo império hegemônico da época. Falando assim parece loucura… e é mesmo.

Se há alguém cuja liderança seria considerada improvável aos olhos humanos, esse alguém é Moisés. Ele é um homem excepcionalmente despreparado. Ele não se sujeitou aos trabalhos forçados no Egito. Ora, é muito mais fácil recrutar esforços para uma luta entre aqueles que são oprimidos, entre os que estão sofrendo com a adversidade.

Ele é um homem que tentou resolver o problema do jeito simples, rápido e mal feito: matou um egípcio. Foi rejeitado pelos seus próprios irmãos. Estava ausente do local do conflito há 40 anos. Era relutante e inseguro. Colocou diante de Deus cinco oposições para o seu chamado.
Você acha que para por aqui? O plano de libertação parecia ser mais insano ainda, pois Deus o manda falar diretamente com o faraó e simplesmente solicitar a liberação do povo para cultuar o Senhor no deserto, já assegura que faraó não vai aceitar essa proposta, e termina dizendo que os egípcios terão boa vontade com os israelitas.

A história da salvação é mesmo o registro impressionante de como Deus usou os instrumentos mais improváveis, superou os obstáculos mais formidáveis, empregou os métodos menos convencionais e obteve os resultados mais extraordinários.

Tanto a incompetência de Moisés quanto o fato de Deus falar e aparecer distante do local do conflito são os ingredientes que faltavam nessa história para mostrar a todos que o poder vem de Deus, que é Ele quem salva, do modo como Ele bem entende, pois esta história não é sobre a fé e nobreza de Moisés, é sobre Deus.

A aparição do Senhor em Midiã, revela algo importante sobre a pessoa de Deus. O Egito é conhecido pela magnificência de suas construções, como as pirâmides, por exemplo. Mas as pirâmides são túmulos, são casas de mortos. São monumentos gigantescos que parecem desafiar o tempo, entretanto são monumentos que celebram a tentativa humana de ser imortal.

Mas a única fonte de vida é Deus e esta vida não necessita de monumentos para se manifestar. Uma sarça tem mais vida que uma pirâmide (você prefere ter fé que se compare ao grão de mostarda – que tem vida – ou ao Pão de Açúcar – uma pedra morta?)

Quem se manifestou na sarça foi o Deus vivo, o Deus que tem uma história com seu povo, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Ao contrário da opulência do Egito, império de morte, Deus nos mostra que é na simplicidade e na fragilidade que a vida se manifesta.

A história da salvação se desenvolve em um ambiente de conflito entre a morte e a vida, entre o poder desse mundo de morte e a fraqueza dos instrumentos de Deus, que manifestam vida. Deus falou no meio de um pequeno arbusto escondido em uma montanha distante do Egito a um pastor fugitivo e inseguro. Foi assim que Deus começou a escrever uma história de vida, liberdade e adoração que seria lembrada pelas próximas gerações.

Ao examinarmos a vida de Jesus, vemos que o Salvador veio ao mundo em uma pequena cidade da Judeia, não em Jerusalém, nem em Roma, capital do Império. Veio ao mundo como um frágil bebê, vida pequena, cuja manifestação foi celebrada por pastores. Mas foi assim que Deus começou a escrever essa história.

No calvário, a história parece ter um fim trágico. Há silêncio nas almas dos pobres discípulos amedrontados. Aparentemente, o mal triunfou. Mas sabemos que não foi assim que tudo terminou. Nos jardins de Jerusalém, a vida prevaleceu. Mas mesmo em sua ressurreição, não vemos nenhum espetáculo grandioso. Ele não falou e apareceu no palácio de César ou na residência de Pilatos, ou no templo de Jerusalém, mas sim aos seus amigos escondidos (simples, discreto, pequeno).

Para que nos lembrássemos dele, Cristo deixou não um monumento, mas uma refeição com pão e vinho (simples, pequena, discreta). Deus fala, embora possamos não ouvi-lo plenamente; Deus ouve nosso clamor, embora não estejamos cientes disso; Deus se manifesta, embora de um modo estranhamente simples; Deus escolhe e capacita, embora sejamos tão desqualificados; Deus salva (e só Ele salva), ainda quando escolhe aquilo que é loucura e escândalo para o mundo.

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