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Uma história de salvação – parte 1

True-Cross-Kreuzpartikel-Schatzkammer-of-Vienna-HD-WallpaperComo Deus age para nos salvar? O evento que se apresenta como paradigma de salvação no Antigo Testamento é o livramento dos israelitas da escravidão egípcia, a primeira páscoa. Vamos recuar na história cerca de 1500 anos, antes dos eventos decisivos da encarnação/paixão/ressurreição do nosso Senhor e Salvador. Ali encontraremos uma história de salvação.

Segundo a lição preciosa de Eugene Peterson, “precisamos resgatar a história da salvação para que as palavras da salvação signifiquem algo”. Ao comemorarmos (lembrarmos em comunidade, lembrarmos juntos) a primeira páscoa, tenhamos em mente que é a história que nos une aos personagens bíblicos, de modo que nós entramos nela não como meros ouvintes, mas ativos participantes.

Se uma criança hebreia perguntasse aos seus pais o que significava salvação, a resposta não seria um conceito teológico bem organizado, mas começaria mais ou menos assim: “Éramos escravos no Egito…”. E mais, não importa quanto tempo depois do êxodo a história fosse contada, aquela ainda seria uma história atual. Quem contava e quem ouvia haviam sido libertados do Egito, como se isso tivesse ocorrido no dia anterior.

Outra coisa que precisamos lembrar é que, apesar de fundamentada em um tempo e espaço reais, a história não tem como alvo apenas relatar acontecimentos, mas sim testemunhar os atos de Deus no passado, para que no presente andemos mais intimamente com Ele.

As primeiras linhas do livro do Êxodo nos mostram que aquela família que havia entrado no Egito a fim de sobreviver transformara-se em um povo numeroso.
Porém, o testemunho de José fora esquecido. O resultado foram 4 séculos de escravidão e um silêncio estarrecedor da parte de Deus.

Aqui temos uma primeira lição: a história da salvação não se baseia em nada do que fizemos ou podemos fazer quer como indivíduos, quer como sociedade. Esta história começa em condições de total impossibilidade humana e na mais completa adversidade.

Este não é um relato sobre a nossa fé, sobre nossos feitos, sobre nossas vitórias. É uma história sobre Deus fazendo por nós o que nós não podemos fazer por nós mesmos.

No horizonte, nada que lembrasse salvação parecia estar ocorrendo. Esta história tem origem no meio de um povo cuja principal experiência é a ausência e o silêncio de Deus.

E aqui já vai a segunda lição. O processo que culmina em salvação não está isento de experiências com a ausência e o silêncio de Deus. O salmo 22.1, citado por Jesus no calvário, é a expressão mais pungente dessa sensação de abandono e silêncio, que parecem anteceder a ação salvadora de Deus. E quantos de nós podemos relatar algo semelhante?

Agora veja o paralelo mais que evidente com o Novo Testamento. Novamente vemos um povo cativo, agora em sua própria terra. Um silêncio de 400 anos pairava no ar, enquanto Deus estava preparando o mundo para receber o Salvador (Gl 4.4). Mais uma vez, salvação surge quando as possibilidades humanas se esgotam.

Páscoa não celebra virtudes humanas, heroísmo ou mesmo fé. Ela é a ação de Deus reveladora da total ausência destas qualidades em nós.
Porém, é a partir dela que os escombros da nossa existência são reerguidos, virtude e fé são forjadas, uma comunidade viva nasce do escândalo da cruz.

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