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Será mesmo que tudo acaba bem?

Há uma pergunta que clama por uma resposta. Os meios de comunicação nos bombardeiam há tempos com afirmações sobre o poder da fé, o poder da palavra, o poder da confissão positiva, o poder da oração, o poder da rosa abençoada, o poder disto ou daquilo. Mas a pergunta que clama é: “Será mesmo que se eu tiver fé o suficiente tudo vai acabar bem?”.

Fé, segundo o autor da carta aos Hebreus, é a “certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. Então, se eu espero que tudo vai acabar bem, isso não seria fé? E se eu tiver fé, não posso “mover montanhas”, como disse o próprio Jesus? Aliás, vou até citar o Mestre aqui: “Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e assim será feito” (Mt 21.21). Segue então que posso, literalmente, exercer domínio sobre todas as minhas circunstâncias, sejam elas cheias de obstáculos (montanhas), dificuldades (figueira sem fruto), ou motivos de tristeza.

Fora isso, ainda existe a promessa sobre todas as minhas circunstâncias cooperarem, segundo a operação da vontade de Deus, para o meu bem! Para que não haja dúvida, cito Paulo: “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Rm 8.28). Ora, eu amo a Deus. Eu fui chamado segundo o seu propósito. Isso quer dizer que tudo vai dar certo, então. Tudo vai acabar bem.

O problema com este tipo de fé é que se concentra nas pinceladas, mas nunca vê o quadro inteiro. Mais ainda, não entende essas declarações à luz de todas as outras Escrituras.

Jesus também disse: “Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (Jo 16.33). “Espere aí, se ele venceu o mundo então não tenho que ter aflições!” Mas não é isso o que Ele disse. Paulo também falou de aflições: “Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8.18). “E a nossa esperança em relação a vocês está firme, porque sabemos que, da mesma forma como vocês participam dos nossos sofrimentos, participam também da nossa consolação” (2 Co 1.7). “Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). “Quero conhecer a Cristo, ao poder da sua ressurreição e à participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte” (Fp 3.10).

“Quer dizer que sofrer faz parte da minha “vida em Cristo”? Ninguém me falou isso!!! Ninguém pregou esse Evangelho para mim. Falaram que tudo iria dar certo. Tudo iria acabar bem. Pararia de sofrer. É só ter fé e tudo vai dar certo. Terei livramento de todos os males que me assolam. Terei alegria. Tem até uma música que afirma que Deus me ama e quer me dar a paz, me ver sorrir e NUNCA CHORAR. Não me fale de sofrimento. Isso é papo de incrédulo, de derrotado, de quem nada entende da Bíblia! Eu tenho fé. Se tiver fé, TUDO VAI DAR CERTO E ACABAR BEM!!! Eu declaro, eu tomo posse, eu afirmo, eu profetizo”, muitos dirão, confusos. Talvez irritados.

Caro leitor, eu entendo o pavor que as Escrituras causam naquele que busca uma fé poderosa e crê que se tão somente tiver essa fé, nada o atingirá. Mas vamos voltar ao rol dos “heróis da fé”. Vamos ver o que o autor de Hebreus falou:

“Todos estes ainda viveram pela fé, e morreram sem receber o que tinha sido prometido; viram-nas de longe e de longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Os que assim falam mostram que estão buscando uma pátria. Se estivessem pensando naquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Em vez disso, esperavam eles uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Por essa razão Deus não se envergonha de ser chamado o Deus deles, pois preparou-lhes uma cidade. Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho, embora Deus lhe tivesse dito: “Por meio de Isaque a sua descendência será considerada”. Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos. Pela fé Isaque abençoou Jacó e Esaú com respeito ao futuro deles. Pela fé Jacó, à beira da morte, abençoou cada um dos filhos de José e adorou a Deus, apoiado na extremidade do seu bordão. Pela fé José, no fim da vida, fez menção do êxodo dos israelitas do Egito e deu instruções acerca dos seus próprios ossos. Pela fé Moisés, recém-nascido, foi escondido durante três meses por seus pais, pois estes viram que ele não era uma criança comum, e não temeram o decreto do rei. Pela fé Moisés, já adulto, recusou ser chamado filho da filha do faraó, preferindo ser maltratado com o povo de Deus a desfrutar os prazeres do pecado durante algum tempo. Por amor de Cristo, considerou a desonra riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa. Pela fé saiu do Egito, não temendo a ira do rei, e perseverou, porque via aquele que é invisível. Pela fé celebrou a Páscoa e fez a aspersão do sangue, para que o destruidor não tocasse nos filhos mais velhos dos israelitas. Pela fé o povo atravessou o mar Vermelho como em terra seca; mas, quando os egípcios tentaram fazê-lo, morreram afogados. Pela fé caíram os muros de Jericó, depois de serem rodeados durante sete dias.

Pela fé a prostituta Raabe, por ter acolhido os espiões, não foi morta com os que haviam sido desobedientes. Que mais direi? Não tenho tempo para falar de Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e os profetas, os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram força, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos. Alguns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior. Outros enfrentaram zombaria e açoites, outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas. Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados. [ênfases minhas] (Hb 11.13-40)

Desculpe-me os que não estão acostumados a ler trechos tão compridos da Bíblia. Mas não há outra maneira de vermos essas verdades claramente. Veja que a boa fé é o que nos assegura um bom testemunho e não o que nos assegura um bom resultado. Houve resultados maravilhosos mediante a fé, ainda neste mundo. Outros sofreram “horríveis derrotas”. Mas foram derrotas, mesmo? Afinal, a vitória não é o que imaginamos.

Por isso mesmo que faço tanta questão de falar do livro do meu amigo Maurício Zágari, “A Verdadeira Vitória do Cristão” (www.editoraannodomini.com.br). No fim a nossa vitória é o que, então? Que tudo vai acabar bem? Não, que receberemos o nosso galardão na nossa morada celestial. Afinal, se a nossa esperança se limita a este mundo, Paulo mesmo que o disse mas aqui vou apenas parafrasear, “somos patéticos”. Os que envergam sua fé num resultado apenas, não entendem o que a fé verdadeira realmente é. Fé olha para o fim, ou melhor, o início de uma época na qual não haverá mais lutas, nem dor, os filhos de Deus participarão da glória do Cordeiro e não haverá mais guerra. Neste mundo, nem tudo está garantido que acabará bem. Mas quando vier o fim, após a nossa morte e a volta do Rei dos Reis… bem, aí sim. Tudo haverá de acabar bem, para os que amam a Deus e foram chamados segundo o seu propósito.

A Ele seja toda a glória para sempre. Amém.

Na paz,

+W

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    Peço ao Pai, incessantemente, por misericórdia.

    EXCELENTE REFLEXÃO BISPO!!! EXTREMAMENTE PERTINENTE!!!

    Paz e bem!

  • Muito Bom e Bíblico.
    Deus Abençoe vc e sua família.

    Renato S.
    Ass. de Deus – cordovil