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Professores sem paciência | Por Gabriel Carvalho

Não precisa ser profeta para vislumbrar a rotina e a situação emocional de muitos dos professores de nossos dias: cansaço, impaciência, exaustão, doenças somatizadas, fadiga, estafa. Requerer paciência de alguém ligado ao magistério hoje é praticamente um sacrilégio. Mas o fato de ser difícil não o torna dispensável. Mais do que nunca, é importante e essencial que o professor desenvolva a paciência.

Em primeiro lugar, o mestre deve ser paciente com os distraídos. Todo professor que tenha um mínimo de experiência em sala de aula já passou pela situação de ter alguém cochilando, ou contando as lâmpadas no teto, ou mexendo no celular, ou qualquer outra coisa que retirou a atenção da aula. Sei que ser ignorado é ruim, dói em nosso ego; ninguém gosta de ser abandonado. Mas é preciso refletir que nossa atitude nesse momento crítico poderá indicar para onde aquele aluno irá: caso percamos a paciência, é possível que você perca o direito de ser ouvido por ele; caso seja passivo e indiferente, poderá perdê-lo da mesma forma. É necessário encontrar meios de prender a atenção, a fim de “salvá-lo” de suas abstrações, e trazê-lo para o mundo real da aprendizagem.

Além disso, o atento professor deve ser paciente com aqueles que possuem dificuldades de aprendizagem. Por mais que sejamos especialistas em nossa área de ensino, ou possuamos as mais recentes técnicas didáticas, é muito possível que alguns alunos simplesmente não entendam o que estamos dizendo (ou pelo menos não entendam por enquanto). Precisamos adquirir a capacidade de entender os diferentes pontos de maturação em nossa turma. Uma atitude impaciente e intransigente poderá quebrar o ciclo de amadurecimento daquele novo ensino no coração e mente do aluno. Ensinar é compreender o tempo de cada um absorver o aprendizado.

Em terceiro lugar, o mestre deve ser paciente com os confrontadores. Creio que muitos já tiveram alunos dessa rara espécie. Talvez por já possuírem algum conhecimento daquele assunto, ou por serem arrogantes puramente, ou mesmo por não terem se identificado a princípio com o professor, tais alunos desafiam a autoridade do mestre em sala: fazem perguntas intimidadoras, ou mesmo possuem comportamentos que violam a autoridade do professor. Nossa reação mais instintiva é a de proteção: nos defendemos das acusações muitas vezes com impaciência e impondo decisões tirânicas, amparados pela autoridade outorgada. Soma-se a isso, como dissemos no início, alguém extremamente cansado e fatigado com a rotina do magistério. É praticamente uma bomba nuclear.

Esse é um bom momento para se refletir sobre o último ponto: o professor deve ser paciente com ele mesmo. No auge da afronta, o professor deve baixar as armas. Ter uma postura bélica quase sempre atrai mais problemas. Já dizia o adágio: “Quem tem culpa, não tem defesa; quem não tem culpa, não precisa de defesa”. Sejamos pacientes: não precisamos nos defender a todo momento em classe. Nossa autoridade pode ser expressa na turma sem que haja gritos tirânicos e ameaças. Nossa reação a esses momentos críticos acabam por ser muito mais eficientes em “ganhar a turma” para si do que arroubos incandescentes e histéricos. O professor é uma régua moral de seus alunos. Um professor paciente, temperante e sóbrio será uma influência muito melhor em sala de aula.

Como podemos chegar a esse nível de equilíbrio? É certo que um primeiro passo é “pisar no freio”. Professores são seres frenéticos, sempre atolados de trabalho. Dar um passo atrás não é necessariamente uma derrota, quando essa atitude faz com que você se torne um mestre melhor. Repensar a vida exige pausa. Cultivar a paciência será certamente mais proveitoso, a longo prazo, do que perder a saúde e a mente com uma rotina louca, que muitas vezes acaba obscurecendo a maravilhosa vocação do magistério. Lembre-se: um professor paciente vai mais longe, e leva seus alunos mais longe. Que Deus abençoe a sua vida!

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