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O meu trabalho glorifica a Deus? | Por John McAlister

Conta-se a história bastante conhecida do sapateiro que perguntou certa vez a Martinho Lutero: “Como eu posso servir a Deus?” A resposta de Lutero foi: “Faça um bom sapato e venda-o pelo preço justo.”

Tanto lá e então como aqui e agora a resposta de Lutero surpreende. Tanto no início da Reforma Protestante como em nosso tempo, predomina dentro da própria igreja uma visão fracionada do mundo em que “servir a Deus” descreve uma categoria específica de tarefas consideradas mais sagradas, em contraste às tarefas ditas seculares e mundanas. Portanto, no século 16, “servir a Deus” restringia-se às tarefas de sacerdotes e padres, monges e freiras; hoje, no século 21, muitos o limitam a servir como pastores, evangelistas e missionários, ou assumir alguma função referente ao serviço na igreja local. Daí a inquietação do sapateiro que indagou Lutero: como servir a Deus sendo um mero sapateiro? Bem, a solução é ser o melhor sapateiro possível, para a glória de Deus.

E você, como pode servir e glorificar a Deus em seu trabalho? Pensemos pelo menos nestas três questões:

Primeiro, o que eu faço glorifica a Deus? Salvo raríssimas exceções, a Bíblia reconhece a legitimidade de praticamente todas as ocupações humanas: pastores, pedreiros e pintores; evangelistas e educadores; conselheiros e contadores; missionários, médicos e mães em tempo integral. Todas essas ocupações são legítimas e importantes para o bom andamento da vida no lar, na igreja e na sociedade como um todo. Portanto, salvo se você estiver envolvido em alguma atividade ilícita ou imoral, não se preocupe tanto com o que exatamente você está fazendo. Avaliando os dons, talentos e aptidões que o Senhor lhe concedeu e as oportunidades dadas por Deus para desenvolver tais habilidades, enxergue seu trabalho – seja dentro ou fora das quatro paredes da igreja local – como um serviço útil e proveitoso para Deus.

Segundo, como eu faço o que faço glorifica a Deus?Se todo nosso trabalho realizado neste mundo pode ser útil e proveitoso aos olhos de Deus, precisamos reconhecer que o fazemos primeiro perante os olhos do Senhor, não perante o mundo que nos observa. Portanto, reconheçamos a dignidade de todo nosso trabalho como uma oferta de louvor a Deus; afinal de contas, todo dom, talento ou aptidão que nós possamos desenvolver, no fundo, provém do Senhor, e não de nós. Logo, que o nosso trabalho carregue a marca de uma oferta dirigida ao Senhor, ou seja, um trabalho excelente, digno e honesto. E, na medida que ofertamos nosso trabalho ao Senhor, que outros possam enxergar essas qualidades e darem honra e glória a Deus por isso. Como bem disse Lutero: “Faça um bom sapato e venda-o pelo preço justo.”

Terceiro, a minha motivação em fazer o que faço glorifica a Deus?Até aqui, não há nada que necessariamente distingue o trabalho de um cristão do de um não-cristão. Provavelmente conhecemos inúmeros exemplos de pessoas que não professam a fé em Cristo e que exercem suas ocupações neste mundo com muito mais dedicação, empenho e excelência do que muitos cristãos que conhecemos. Porém, o grande diferencial do trabalho cristão – de novo, seja dentro ou fora das quatro paredes da igreja – é o que nos motiva a realizar nosso trabalho. Mesmo um cristão engajado numa ocupação digna e empenhado em realizar um trabalho excelente ainda não está servindo a Deus plenamente se o que o motiva não for a glória de Deus. Posto de outra forma, o cristão mais dedicado e excelente em seu trabalho que não busca em primeiro lugar a glória de Deus acabará realizando suas tarefas pela motivação errada – seja ela para agradar, em primeiro lugar, um chefe ou supervisor; ou para alcançar as expectativas de um pai ou mãe que investiu em sua educação; ou para impressionar os colegas de trabalho, quando não para promover a si mesmo e fazer o seu nome na sua área de atuação.

Então, o seu trabalho glorifica a Deus? O que você faz, como o faz e por que o faz trazem glória ao Senhor? Como bem resumiu o apóstolo Paulo: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.” (Cl 3.23-24) E isso vale até mesmo para o mais humilde e simples sapateiro.

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