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Non sequitur

Segundo o dicionário, um non sequitur é um argumento segundo o qual a conclusão não segue as premissas. É uma falácia lógica. Entretanto, é comumente utilizado para classificar um argumento onde a conclusão claramente nunca segue as premissas. Devido a ser uma falácia muito geral, tende a ter mais de uma classificação.

Em termos aristotélicos, é conhecido como a falácia, a “Afirmação da Consequente”. Este argumento pode ser demonstrado pela seguinte construção:

  1. Todo bode é um animal.
  2. Eu sou um animal
  3. Portanto eu sou um bode.

Tenho visto, com uma frequência crescente e preocupante, o emprego de non sequiturs na discussão de questões que dividem opinião entre cristãos, especialmente na maneira que citamos passagens bíblicas, fora de contexto e como modo de refutar a posição dos que discordam de nós.

Vamos ao exemplo que mais tenho encontrado nas discussões do mundo virtual. Alguém me faz uma pergunta. A partir da minha resposta, que claramente tem um fundamento nas Escrituras, alguém rebate com uma postura contrária, citando igualmente as Escrituras. Em algum lugar, um de nós cometeu um equívoco de interpretação, claro. Frequentemente a discussão progride ao ponto de uns e outros entrarem na “briga” com palavras menos do que gentis. Pronto, a confusão se estabelece e o circo pega fogo.

O que começou como uma disponibilidade minha de tirar a dúvida de alguém que, de coração aberto, queria aprender, tornou-se uma briga doutrinária. Em pouco tempo há quem saque termos como herege, calvinista, arminiano, pelagiano, dispensacionalista, e voam meios-argumentos.

E então acontece:

Um irmão cita uma passagem bíblica, como Gálatas 5.19-21: “As obras da carne são evidentes, a saber: imoralidade, impureza e indecência; idolatria e feitiçaria; inimizades, rivalidade e ciúmes; ira, ambição egoísta, DISCÓRDIAS, partidarismo e inveja; bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a essas, contra as quais vos previno, como já vos preveni antes: Os que as praticam não herdarão o reino de Deus.”

Sem qualificar a colocação, a passagem é citada. O que começou como uma sessão de perguntas e repostas acabou mal. Não é que a pergunta fosse uma provocação, nem que a reposta a tenha sido tampouco. Mas, ao incluir na lista de contribuições de um papo virtual que desandou uma citação não qualificada, acaba pegando todos num arrastão generalizado. O non sequitur que se armou segue essas linhas, então:

  1. A minha resposta suscitou uma discussão que beira a discórdia.
  2. Por causa da discórdia (entre outros pecados) uns deixarão de herdar o Reino de Deus.
  3. Portanto eu peco por ter uma postura diferente da que meu irmão tem, no que diz respeito à interpretação das Sagradas Letras – e toda e qualquer discussão é um pecado.

O non sequitur não afirma, ele sugere. Deixa como um subtexto a acusação que, por associação, os menos esclarecidos acabam tirando.

A verdade é que poucos sabem dialogar com clareza e isenção. Menos sabem sequer raciocinar sobre as diferentes interpretações da Bíblia. Acabamos nos tornando torcedores de líderes cujos nomes acabam sendo a personificação de uma escola de teologia (como “prosperidade” ou “neocalvinismo”), que nem compreendemos inteiramente. Em meio a essa confusão e ignorância das Escrituras, alguém joga a bomba do non sequitur e todos saem réus de algo, que frequentemente não tem nada a ver com o que está em pauta.

Para fechar o meu assunto hoje cito apenas Atos 8.39: “Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou Filipe repentinamente. O eunuco não o viu mais e, cheio de alegria, seguiu o seu caminho”.

Viu o que fiz agora? Agora vai entender.

Na paz,

+W

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  • Muito bom seu texto, é verdade…às vezes postamos algo que acreditamos, sem querer agredir qualquer pessoa, no entanto, ao término de um dia…vemos o quão foi mal-interpretado o que postamos…já passei por isso, e às vezes me pego pensando se vale a pena colocar o que acredito, mas lhe afirmo que não postar é bem pior, pois o que importa é a intenção do coração em ensinar, elucidar textos, etc…e com certeza em meio a enxurradas de interpretações errôneas, existe um saldo muito positivo de ‘n’ pessoas que compartilham das mesmas posições e entendem exatamente o que foi dito.
    Que Deus continue lhe dando graça e paciência, rsrs
    É confortante sabermos que temos uma liderança séria e comprometida com o reino.
    Temos defeitos? – Sim, quem não os tem…, mas temos também a convicção de que nada somos sem Ele, e que sua Graça nos basta.
    A paz!

  • Creio que, por mais equivocadas que podem ser, todas as contribuições são válidos – mais ainda, são importantes. Os meus esforços não são para alcançarmos uma elegância na discussão, mas para que possamos pensar claramente, pois a verdade é importante. A verdade só será alcançada se estivermos nos entendendo claramente. Sou grato pela sua contribuição. Fique na paz.

  • A paz bispo.
    .
    De fato poucos sabem dialogar com clareza, mas não acredito que exista discurso isento.
    .
    Por mais que tentemos, todo um conjunto de experiências, aprendizados e empatias com algumas teologias acabam por moldar o nosso discurso à forma não isenta. Bem, se todos fossem isentos, talvez não houvesse discussões. Acredito que a falta de isenção nos outros é que nos permite argumentar propiciando-nos uma perspectiva que a minha falta de isenção não me permite ver.
    .
    O problema é que hoje a discordância intelectual acaba levando à afronta pessoal por causa do orgulhos, partidarismos e até inseguranças, e ai não tem argumentos que resistam.
    .
    A paz.
    .
    Luiz Felipe

  • O problema maior não é ter opniões diferenetes acerca das escrituras o problema maior é discutir sobre assuntos com uma escritura corrompida, pois a nossa biblia protestante traduzida da vulgata latina pelo padre João Ferreira de Almeida, como todo bom estudioso e historia dor bíblico sabe que existem mais de 52.000 erre tradução fora os acrescimos feitos por Roma.
    Qualquem um pode verificar se oque falo é verdade.
    É facil compre uma bíblia traduzida diretamente dos originais gregos e aramaicos.
    Uma muito boa mas meio difícil de encontrar é a peshitta aramaica que foi feita segundo oos textos aramaicos originais.
    Vocês verão a diferença da biblia traduduzida do latim com uma traduzida direto das escrituras originais.
    Lá não nos dá teses sobre a trindade que é algo inserido por Roma para continuar oque eles eles sempre fazem, profanar as coisas!
    E várias outras passagens que não são encontradas nos originais.
    Bom estudo e boa pesquisa a todos!

  • João Ferreira de Almeida nunca foi padre. Ele se converteu ao protestantismo aos 14 anos de idade. Fez parte da Igreja Reformada Holandesa. Sua tradução não inclui os livros apócrifos. Muitos reconhecem que representa uma das melhores traduções do séculos 17. De fato, tradução se tornou muito mais precisa após a descoberta de textos nas cavernas de Qumran. Eis que as revisões e atualizações tiveram muito êxito, e as atuais são muito boas também.
    Recomendo que faça uma leitura rápida de Wikipedia, quando se referindo a figuras históricas. Este recurso demonstra mais acertos do que a própria Enciclopédia Britânica. Fique na paz.