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Lendo de forma correta | Por Gabriel Carvalho

Dando sequência à nossa série de textos sobre a prática da leitura, precisamos caminhar um pouco mais, buscando entender os postulados e informações que nos ajudarão a ler de forma correta. Isso mesmo: não basta abrir um livro e começar a ler a esmo; é necessário ter a capacitação e o direcionamento necessários para que a leitura se torne mais eficaz e consistente, a fim de que não desistamos no meio da jornada em direção a uma vida de leitura habitual. Para este fim, continuamos contando com a ajuda de Mortimer Adler e Charles Van Doren, autores do livro “Como ler livros: o guia clássico para a leitura inteligente”, da editora É Realizações.

Para começar, os autores nos ensinam que há dois sentidos na leitura. Em primeiro lugar, existe o “ler para se informar”: esta é a forma mais comum, que se procede por meio da leitura de jornais, revistas etc. Essa leitura aumentam nosso estoque de informações, mas são incapazes de aumentar nosso entendimento, pois nos são adicionados apenas os fatos e informações, sem muita capacidade crítica e de construção de raciocínio. A leitura informativa não é inútil, porém também não é a mais completa. Infelizmente, muitos ficam apenas nesse nível de leitura e não avançam, imaginando que estando aqui se enquadram como leitores de fato.

Por outro lado, há um segundo sentido na leitura: o “ler para entender”: esta é aquela forma em que a coisa a ser lida é melhor ou maior que o leitor. O autor está comunicando algo que poderá aumentar o entendimento do leitor. Existe informação edificadora em suas páginas. Tal comunicação entre desiguais tem de ser algo possível sob pena de ninguém nunca aprender nada com ninguém, seja oralmente, seja por escrito. É importante para o desenvolvimento de uma capacidade cognitiva de crítica e fundamentação de raciocínios a respeito dos diversos temas que tocam a existência humana.

Como você deve ter percebido, o “ler para entender” demandará mais do leitor. Existem condições para que essa forma de leitura aconteça de forma satisfatória: deve haver uma desigualdade inicial de entendimento. O autor deve ser “superior” ao leitor em entendimento, no sentido de que seu livro deve ser capaz de transmitir de forma legível os insights que supostamente faltam ao leitor. Esse, aliás, é um princípio válido no aprendizado de qualquer coisa. Estamos sempre aprendendo porque sempre haverá alguém que sabe mais sobre alguma coisa que nós.

Outra condição para que o “ler para entender” aconteça é que o leitor deve ser capaz de superar parcial ou totalmente essa desigualdade – quase nunca totalmente, mas sempre se aproximando da igualdade com o autor. Quanto mais próximo estiver da igualdade, tanto mais clara será a comunicação entre ambos. Em suma, só podemos aprender com nossos “superiores”. Temos de saber quem são eles e como aprender com eles. Isso resume a busca em uma leitura: devemos chegar ao nível de entendimento do autor, a fim de que nosso conhecimento sobre tal assunto se equipare a ele. A pessoa que souber como aprender com eles terá dominado a arte de ler.

Por fim, precisamos tratar de mais alguns pontos importantes. Um erro comum é achar que ler muito e ler bem são a mesma coisa. Não se mede um bom leitor pela quantidade de livros que ele lê, mas pela quantidade de informação que absorve – informação essa capaz de modificar sua conduta e desenvolver suas atitudes. Ainda, precisamos entender a diferença entre ensinar e descobrir: o ensino ocorre quando uma pessoa instrui outra oralmente ou por escrito. No entanto, é possível adquirirmos conhecimento sem sermos ensinados – a descoberta, ou seja, um processo no qual se aprenda por pesquisas, investigações, reflexões – sem ajuda de ninguém.

Nos dois casos, há aprendizado. Seria um erro crasso supor que a descoberta é aprendizado ativo e o ensino é aprendizado passivo. Não existe aprendizado inativo, assim como não há leitura inativa. Eis o nosso desafio: ler de forma correta não é fácil, mas vale a pena. A recompensa de ter agregado conhecimento relevante para a vida é de valor sem igual. A leitura pode colaborar para que o mundo caminhe de forma mais madura, centrada e focada. O ser humano só precisa descobrir isso. Já que você está descobrindo, por que não compartilhar esse conhecimento com outros, para que possamos ter cada vez mais leitores comprometidos com a boa leitura? Deus abençoe a sua vida!

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