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Confissões de um Pastor

reconciliacaoAgostinho escreveu uma belíssima obra, deixando um documento para posteridade, no qual atestava suas próprias fraquezas. No início da minha carreira cristã eu a li. Depois de quase trinta anos, passando os olhos por uma gôndola numa dessas enormes livrarias, encontrei um exemplar publicado por uma editora portuguesa, que chamou muito a minha atenção pela excelência da impressão, textura do papel e refinada encadernação. Não resisti e comprei. Agora ela ocupa um lugar de destaque na minha estante. Não posso deixar de nota-la. Fato curioso, é que todos os dias o Espírito Santo me traz à lembrança a importância da confissão secreta e pública das minhas fraquezas. Venho tentando fazer isto por algum tempo, sem ser aterrorizado pelo medo de que me interpretem mal ou me tomem por desqualificado. A disciplina da confissão, tem me ajudado a interpretar melhor a graça de Deus e a interagir melhor com o Deus da Graça.

Confesso que tenho andado cansado com tudo que os meus olhos estão sendo obrigados a ver. Nunca fez tanto sentido pra mim a previsão bíblica de que os “últimos dias seriam trabalhosos (cansativos)”. Por conta disso, tenho sido inúmeras vezes tentado a abandonar o pastorado. Ando cansado de ter que lutar contra esta tendência de relacionar fé com bem-estar; a ouvir os pregadores de ilusão venderem seus produtos cuidadosamente desenvolvidos para uma audiência específica; a notar o desprezo do “ensino segundo a piedade”. Ando cansado de aconselhar sobre as mesmas coisas; de falar pra quem já imagina saber tudo sobre a fé; de intervir e não ouvir obrigado. Ando cansado de ter que educar os filhos dos outros; a buscar conciliar casais cristãos que facilmente harmonizariam a relação, se simplesmente pusessem em prática a Palavra de Deus. Ando cansado de não ver apego a oração na “casa de oração”. Ando cansado da confusão entre espetáculo e adoração. Ando cansado de ver famílias se desfazendo sem que seus membros percam a pose. Ando cansado de ver crianças entregues a si mesmas, deixadas ao cuidado da TV, enquanto pais cristãos não encontram foças nem mesmo para uma simples oração em família. Ando cansado de ministrar semanalmente a centenas de pessoas que parecem estar mumificadas, sem esboçar a mínima reação. Ando cansado de ter que assistir o litígio prevalecer sobre o amor e o bom senso. Ando cansado dessa mercantilização absurda da igreja. Cansado! Cansado! Cansado!

Confesso que semanalmente sou traído por meus sentimentos de compaixão e esperança. Confesso que pela graça de Deus consigo vencer a tentação para enfrentar mais uma semana. Confesso que o temor a Deus á a ÚNICA RAZÃO para eu não ceder. Confesso que também sou capturado pelo amor às 500 almas para as quais prego. Confesso que nada me fortalece mais do que as lágrimas derramadas em secreto. Confesso que os amigos são determinantes nessa batalha. Confesso que não tenho medo de confessar. Confesso que anseio por ser um cristão literalmente bíblico em busca de edificar uma igreja com essas características. Confesso a minha sede por devoção. Confesso que não consigo pensar em outra coisa se não na LEI DO SENHOR. Confesso que luto para amar alguns que gostaria não ter que amar. Confesso que me envergonho de ver tanta gente lançando mão de recursos e estratégias mundanas para alcançar seus objetivos de gigantismo. Confesso que não tenho estômago para birras. Confesso que como disse muito apropriadamente Ed René: “Não sou quem tem um ministério, mas ele é que me tem”.

Graças a Deus, as tentações estão sendo vencidas.

Com amor, carinho e total transparência.

Pr. Weber

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